O Japão, com 127.445.000 habitantes, tem como religiões predominantes: “Xintoísmo (51,3%), o Budismo (38,3%), e outras (10,2%). Muitos japoneses consideram–se tanto xintoístas, quanto budistas, o que explica o fato de as duas religiões terem, somadas, aproximadamente 194 milhões de membros (dados de 1996), ou seja, mais do que a população total do Japão”. Esses dados, retirados dos sites Viagem ao Japão e Embaixada do Japão, mostram que os japoneses conseguem unir, com equilíbrio, ciência e religião, em uma das mais modernas sociedades que eu conheço. E pela cultura budista e xintoísta, os japoneses estão abertos a muitas práticas religiosas e isso se apresenta em animês e mangás.
É óbvio que toda essa religiosidade é transmitida através de roteiros em animês. Aqui vão alguns traços de espiritualidade em animês:
1.0- Reencarnação: efeito corriqueiro em animês. Um personagem morre e reencarna após algum tempo. Dá uma continuidade, ora dramática, ora cômica para a história central. Podemos citar aqui o final de Dragon Ball Z, quando Goku descobre a reencarnação de Majin Buu em um campeonato. Também foi muito usado no neoclássico Inu-Yasha.
2.0- Culto aos antepassados: também é retratado de forma singela. Quando algum parente morre, cria-se um pequeno altar, geralmente domiciliar, com a foto do personagem morto e oferendas como frutas que ele gostava de comer, velas e incenso. O exemplo mais atual está no animê Usagi Drop
3.0- Culto às forças da natureza: e isso devido ao Xintoísmo que, segundo monografia de Marcus Valério XR, “o praticante busca se familiarizar e se integrar com a natureza num comportamento simbiótico, de onde ele tira seu sustento mas também deve retribuir”. Vemos essa clara definição de equilíbrio e harmonia em animês como Mushishi. A falta de equilíbrio entre os homens e a natureza também é enredo de animês, como em Blue Seed.
4.0- Horóscopo: arcabouço usado inúmeras vezes. Pode ser o horóscopo chinês, como em Fruits Basket, ou o ocidental, como em Cavaleiros do Zodíaco. As forças astrais são interessantes fontes em animês.
5.0- Amuleto: coisa mais frequente de se achar em animês. É namorado(a) presenteando namorado(a) com amuleto. Amuletos sendo usados para purificar ambientes e expulsar demônios. Geralmente, um amuleto estará sempre ligado a uma prece, oração ou mandala. Podem até escolher os animês, porque tem em Sailor Moon, Sakura Card Captors, Silent Mobius, Hayate no Gotoku, XXXHOLIC etc...
6.0- Maniqueísmo interpretado de forma diferente: a constante luta do bem contra o mal. Aqui eu subdivido em duas classes: o enredo voltado ao Céu (o Bem) e o enredo voltado ao Inferno (Mal). Nos enredos voltados ao Céu, os personagens serão, ou estarão ligados, a algum tipo de Paraíso, como em Shurato. Nos enredos voltados ao inferno, os personagens estarão ligados, ou serão, demônios. Aqui tem uma distinção que tenho que fazer. Demônios nem sempre são ameaças aos Homens em animês, basta lembrar do Hiei e Kurama de Yu Yu Hakusho. Mas existem, sim, demônios que ameaçam a Humanidade, como em Inu-Yasha. E, isso também ocorre com enredos voltados ao Céu, pois existem anjos que estarão contra a Humanidade para destruí-la. Neste ponto entra a filosofia do Yin-Yang que diz que não existe o bem absoluto e o mal absoluto, por isso, anjos e demônios, dependendo da orientação do roteiro, poderão ser tanto aliados como inimigos.
7.0- Chacra, Ki, Cosmo ou Soma: não importa o nome que se dê, todas essas denominações dizem respeito a uma única coisa: energia espiritual, ou energia de vida. É toda aquela força de vida que existe em um ser. No ocidente é o espírito. Bem representado por Naruto, Shurato, Cavaleiros e muitos outros.
Novamente, acabou o espaço para a atualização e eu não pude falar de: rituais, templos, livros, cristianismo, deuses e tanta coisa. Fica para uma próxima. Esse é um esboço da presença espiritualista em animês. Para amarrar um pouco mais o título desse post com o texto escrito, a Fé aqui representada pela religiosidade é tão forte que ultrapassa as fronteiras e alcança inúmeras interpretações ao redor do mundo.
Aproveito e faço propaganda de dois livros meus:
Mangá Tropical- Um Estudo de Caso e