Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!
Conto do Cavaleiro!
Alerta!!
Possui descrição de fortes cenas. Aconselho cautela aos mais jovens ao ler.
A lâmina de minha espada reluz em vermelho
sangue. Não é o sangue de um adversário que ela bebe, mas o meu próprio sangue
que escorre pelo punho. Uma ferida grave em meu ombro. Encontrei besta-fera a
altura de minha habilidade. Uma besta-fera cujas penas negras tremem ressoando
uma estridente canção irônica. A ironia de conhecer minhas limitações. A língua
pérfida desta besta dança, sibilante, reconhecendo meu sangue, minha fraqueza e
minha dor. Ela avança lentamente, com suas patas de águia que desejam rasgar-me
mais uma vez. Pela primeira vez, após ser consagrado guerreiro imperial, eu
recuo diante de um adversário.
A vista torna-se turva. O ferimento
impede-me de erguer minha espada. Oriento o escudo à minha frente e minhas
palavras, ora salvadoras, não podem ser proclamadas, pois minha mandíbula
sofreu forte impacto da cauda de dragão desta besta-fera. Não consigo dizer uma
palavra, mas posso sentir, pelo olhar confiante de meu adversário, que o fim se
aproxima. Sinto um sussurrar em meu ouvido. Não é o fôlego da besta-fera, mas
palavras de uma Valquíria que veio buscar-me o espírito. Ela aguarda em cima de
seu nobre cavalo. Como ela é linda e que armadura tão brilhante. Se meu
adversário a visse, certamente recuaria diante de tão formidável figura. Os
cabelos assemelham-se a raios dourados de luz, assim como os olhos
assemelham-se às eternas geleiras do norte. Que rosto jovial! Ela é eterna, mas
dou-lhe a idade de 20 anos.
Curioso como é o comportamento do homem,
pois esqueci completamente da besta-fera para contemplar a formosura que se
apresenta diante de mim. Um grande erro, pois meu adversário não titubeia, avança,
arrancando-me o escudo, e mordendo-me o pescoço. Pronto! Minha vida termina
aqui. O golpe foi mortal e meu adversário aguarda para devora-me o corpo. Ele
aguarda apenas que eu pare de me debater para, então, saciar-se com este
guerreiro. Penso em minha adorada princesa, mas meus olhos já não enxergam
nada. Princesa, minha amada! Minha mente
está bloqueada pela falta de ar que dos pulmões não chega. Ouço um choro ao
longe. Quem será?
---- Não esqueceu de nada?
Vai deixar a camponesa morrer após tua queda?
Sim, finalmente as palavras da Valquíria
fazem sentido para mim. As palavras conseguem chegar à minha alma e recordo-me
que não estou sozinho nesta gruta negra e fétida. Vim, por ordem do rei, matar
besta-fera que se alimenta de aldeões desta vila. Ao aproximar-me da gruta,
entrei com dois de meus homens. Percebi uma camponesa no centro deste covil, ao
lado de um lago de águas frias. Fui ajudar-lhe. Uma camponesa jovem, com um
pouco mais de 25 anos. Olhos apavorados, lábios trêmulos e encolhida em um
canto. Ela não conseguia falar, mas os olhos da camponesa, de cabelos ondulados
e cor de mel, refletiram a agonia de ver a aproximação de tal criatura por
detrás de mim e de meus homens. Criatura mais rápida que um raio. Voando em
silêncio, arrancou as cabeças de meus companheiros com suas asas negras e, com
um golpe de cauda acabara quebrando minha mandíbula. Tudo tão rápido!
Se morrer agora, ela será devorada em
seguida e, após ela, outra e outra até que novos cavaleiros sejam enviados.
Muitos morrerão. Que minha morte não seja em vão. De súbito, revolto-me o
espírito. Enquanto sou estrangulado por uma mordida que rasga minha garganta e
tira-me o ar, o sangue e a vida, eu alcanço uma adaga em minha bota. Não é uma
adaga comum. Presente de meu pai, esta adaga foi consagrada por encantos e é
capaz de matar qualquer animal retirando-lhe o espírito e apreendendo-o dentro
das joias do punhal.
Abraço o pescoço da besta-fera e cada pena
dela me rasga o braço, fatiando minha carne inúmeras vezes, mas alcanço a pele
abaixo de cada pena e perfuro-a com a adaga. Parece que a besta-fera sorri, não
imaginando o que esta adaga é capaz de fazer. Tento desesperadamente dizer as
palavras que ativam o encanto.
---- Officium meum faciam!
Não, embora sejam minhas palavras de
encanto, não fui eu quem as disse. Valquíria, tão generosa, não veio buscar-me
o espírito, mas o espírito de tal criatura. Foi ela quem proferiu o encanto e
selara, no punhal, o espírito amaldiçoado da criatura. Ela aproxima-se e
toca-me.
--- Engano teu, vim buscar
teus aliados e a você, mas minhas ordens mudaram por uma simples oração, de uma
princesa, que pedira tua salvação em uma prece cheia de amor. Tamanho amor não
foi desprezado. Provei teus soldados, dando-lhes a chance de salvar um de vocês
três. Os dois se olharam e pediram a tua salvação. Novamente, vi respeito e
amor fraternal deles por ti. Vigiei cada pensamento teu e vi que, embora
fascinado por minha beleza, teus sentimentos eram para com sua princesa e para
com o seu dever. Decidi que a oração da princesa era justa. Vou restaurar-lhe a
saúde e viverá. Outro dia nos reecontraremos.
Após tais palavras a Valquíria leva o
punhal e meus compatriotas. Fui deixado para trás. A camponesa levanta-se e
corre para a aldeia chamando ajuda. Fui resgatado, passei uma semana em coma,
mas recuperei-me. A primeira pessoa que vi, ao abrir meus olhos, foi minha doce
princesa que salvara minha vida com seu amor. Restaurei minhas habilidades e
voltei para casa, com minha doce amada mulher.
Cotidiano
Este conto faz parte de uma série de pequenos
contos sobre um cavaleiro sem nome e sua princesa. Reuni alguns contos no livro
SETE (Ed. Litteris) e trazem elementos góticos, fantásticos, de literatura
romântica e elementos místicos. Vou
colocar, abaixo deste conto, um dos contos que está no livro Sete. O coloco aqui para conhecerem esta série de pequenos contos que
eu tano gosto de escrever.