Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!
Novamente, guardarei o teu amor! O início dos
poemas do soldado imperial!
Conto na página 17
O que
é essa maldição? Eu penso comigo mesmo como poderia ter sido tão feliz e, ao
mesmo tempo, tão cruelmente torturado. Quando eu a vi passar pelos campos de
castelo, eu me impressionei com a beleza que deixava o próprio Sol
envergonhado. Quando estava de vigia na torre, eu a via em confidências com a
Lua. Os pássaros, corvos e corujas, lhe pareciam render graças.
Em um
dia de outono, a minha espada lhe foi útil. Atacada enquanto caminhava pela
estrada real, seus guarda-costas, eunucos, rapidamente foram derrotados por vil
criatura. Eles não tinham o que era preciso para defende-la. Eu a vi por acaso,
quando estava retornando de meu treino matinal com a espada, ao lado de meu fiel pai. Meu pai, guarda real de
confiança de um nobre conde, foi o primeiro a pressentir o perigo e a se dispor
a ajudar. Eu não tinha tanto fôlego, mesmo sendo mais jovem, pois ele defendia
a nobreza com um espírito incorruptível.
Para ele, os nobres eram passageiros, mas a realeza parecia ser um
estado de espírito permanente, quase uma filosofia que eu não podia entender.
Pois
ele entendia. A vil criatura, horrenda, com olhos que me fizeram tremer e
duvidar da fé de meu pai, estava sob uma gentil e linda donzela. Raptada na sua
inocência por um cruel serviçal das trevas.
Defende-la era meu propósito. Derrotar a criatura era o objetivo de meu
pai. Meu pai atacou o Leviatã com a bravura que me fez inveja. Eu arrastei, sem
a menor polidez, a donzela para longe da criatura. Os olhos da princesa eram
lágrimas. Ela estava em choque por ter ficado a milímetros de dentes tão
afiados. Seu lindo pescoço, branco como a neve, e com a pele tão lisa e suave,
mostrava as marcas vermelhas de dentes.
Meu
bravo pai, honrando o símbolo da guarda real, atacava o bestial de maneira
selvagem e, ao mesmo tempo, com destreza e frieza de coração. Eu poderia ser
igual a ele? Poderia enfrentar horrenda fera, maior que um leão, apenas com
minha espada e o brasão de minha casa? Pois eu saberia disso nesse momento. Meu
pai lançou rápido ataque pela esquerda e feriu o dorso do animal. Com a lâmina
fincada nas costas, o animal quebrou-lhe a espada com a força dos retesados
músculos da coluna O meu honrado progenitor ainda tentou sacar de uma adaga,
mas a cauda horrenda lhe jogara ao chão. Eu ouvi ossos se quebrarem. Agora, a
fera me olhava como que com um único propósito: matar-me. Assustado, olhei para
a donzela. “Desculpe-me, mas eu fugirei e buscarei ajuda”, eu pensara. Olhei
para ela e vi pureza, medo e desespero. Queria livrar-me do fardo. Queria
largar a espada e gritar por socorro. Mas, eu duvido, meus caros leitores, que
tais palavras de covardia pudessem ser pronunciadas diante de um anjo tão
encantador em situação de tamanho desespero. Não podia falar-lhe palavras tão
vis . Coloquei-me entre a mulher e o monstro. Gesto insensato, cego e estúpido.
Apaixonado!
Sempre
sonhara com um momento como este. Eu, um
bravo guerreiro em armadura dourada, em cima de um grande e poderoso corcel.
Desafiando todas as trevas em nome do amor. Uma história que se repete na mente
de cada jovem. Mas a realidade é outra: estava semi-nu, apenas as calças da
guarda real e as botas de couro empoeiradas. Eu estava suando e tremendo como um covarde. O monstro
tinha quase o dobro de meu tamanho e o triplo da sede de sangue. A dama estava
aterrorizada com a infernal criatura que se aproximava lentamente. O bestial me
analisava para ver em quantas mordidas poderia me abater. Talvez pensasse em
provar de meu sangue e sentir o gosto da covardia.
Apesar disso tudo, eu não me afastei. O monstro avançava lentamente e eu
permanecia parado. Minhas pernas queriam se mover para trás, mas meu coração
queria ir para frente. O resultado disso é que eu não saía do lugar. Eu decidi.
Vi meu pai agonizando, vi a jovem e bela futura rainha caída aos pés de um carvalho.
Seu vestido estava rasgado e, por um breve momento, pude ver sua intimidade. A
fúria tomou-me conta e eu me atirei contra ela- a criatura. Acho que a soma de
fúria e remorso me jogaram em direção a boca do bestial. Minha espada reluzia como a um pequeno raio
que cortava o ar. Eu podia jurar que o vento gemia de dor. O animal se
esquivava com paciência, esperando a vez de atacar e me reduzir a pó. A batalha
prosseguia e o animal levava imensa vantagem em reflexo, força e velocidade.
Por duas vezes, ele me rasgara o peito. Uma vez, bem mais grave, ele conseguira
rasgar as minhas costas. Mas o que eu tinha de vantagem era a perseverança e a
inteligência. Atirei minha espada longe. Eu mencionei inteligência? E esperei,
convidando a criatura para realizar-se com minha jugular. Ela atacará sem
pestanejar. Eu poderia dizer que planejava pular sobre a criatura e usar a
espada de meu pai, que ainda estava sangrando o dorso do animal, mas, apesar de
ter pensado nisso, não era o meu plano.
A
criatura avançou. E eu permaneci imóvel. A princessa parou de respirar,
sufocada pela tensão. Eu sorri maquaivelicamente. O animal agarrou-me com suas
garras para garantir que eu não fugiria. Não era minha intenção fugir. E, de
súbito, senti a pressão sufocar minha garganta e um hálito quente a me apertar
a jugular. Lentamente, senti minha carne esfacelar. O animal já preparava o
rugido de vitória. Eu mencionei mesmo
inteligência? Era a hora!
— Officium
meum faciam!!!
Como
simples palavras podem mudar toda uma situação difícil! Meu sangue se fez fogo
e minha carne se fez bronze. As garras do animal se quebraram, seus dentes
derreteram e sua língua queimou. Palavras que na boca de outros nada faria,
porém, em mim, de acordo com um sacerdote cristão, era um dom de Deus que
expandia meu espírito acima do poder da carne. Imaginaram a cena? Meu espírito
rompendo os limites da carne. O animal queimando vivo e a princesa desmaiando.
Agora sim, aproveitei a agonia de meu inimigo e lhe retirei a espada de meu
pai. Com a ajuda de minha espada, eu acabei com o sofrimento do animal. A
batalha cessara e a vitória era minha e unicamente graças a Deus. Fui em
direção de meu pai.
— Pai! Está bem?— perguntei-lhe
— A princesa... — ele apontara para a doce
donzela caída.
Eu
sabia desta determinação e me orgulhava dele. Mas será que ele se orgulhava de
mim? Um guerreiro que não vence a batalha pela espada, mas pelo subterfúgio de
um Dom do Espírito? Esqueci estas dúvidas por um momento e fui ter com a
princesa.
— Ilustre princesa, estás bem!? — amparei-a
preocupadamente. Somente nesse momento, eu senti o perfume de seus cabelos e o
toque macio de seu jovem corpo junto ao meu. Ela estava acordando.
— O que houve? — ela diz de maneira trêmula. —
Instantes atrás, tu eras ouro e bronze. Que bruxaria usastes?
Que voz maravilhosa. Se ela me determinasse:
“Vai-te depressa e mata-te”! Com esse nobre e belo tom de voz, com certeza eu
obedeceria.
— Bruxaria nenhuma minha princesa. Assim como
Sansão tinha força descomunal, o Dom do Espírito me promete expanção espiritual
além dos limites da carne. Toda obra das trevas, que o Espírito toca, queima
instantaneamente. Bastam três palavras em latim que significam: faça-se meu
trabalho e o dom se manifesta.
— Soldado, estás ferido! — ela me surpreende e
levanta-se de meu colo.— Deita-te e repousas!
Como ela, em poucos segundos, consegue força
para se levantar e tentar cuidar de meus ferimentos? Que princesa faria isso?
Sempre escutei histórias sobre princesas lindas e arrogantes. Entretanto, a beleza
desta não lhe atinge o coração. Serás inocente? Uma mulher em um coração de
jovem? Agora, eu me sinto envergonhado de quase ter fugido e orgulhoso de ter
vencido um mal que tentara apagar essa divina chama da Terra. Comecei a ficar
envergonhado e ela nem sabe o porquê. Não consigo tirar da cabeça o meu pecado
contra este anjo. Olhei a intimidade da princesa. Que pecado! Desse dia em
diante, eu jurei usar minha espada para protegê-la. Fui designado para ser da
exército real, graças a meu pai, e sempre a protegerei com minha espada e meu
amor.[1]