Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!
Fate Zero: O diálogo dos reis!
Fate Zero, a séria, está
liberada para a nossa região, através do Crunchyroll, e, desse modo,
pude observar esta espetacular série e seu enredo. Não preciso salientar a
maravilhosa animação, com impecáveis movimentos, luzes, cores e mistura
excelente de animação 2-D com a arte 3-D CGI. Então, quero me firmar em um
único capítulo, em um diálogo entre os três reis: Rei dos Conquistadores, Rei
dos Reis, e Rei dos Cavaleiros, pois são claras definições de moral, lei e
ética. Cliquem nas palavras para ampliarem o leque de conhecimento de cada uma
delas, pois elas não se esgotam neste texto. Aliás, acho que nunca teremos um
fim para a definição de ethos, mores e leis.
Antes de mais
nada, neste capítulo, Rider (Rei dos Conquistadores, ou Alexandre o Grande)
visita Saber (Rei dos Cavaleiros, ou “Rei” Arthur) e convida Gilgamesh (Rei dos
Reis) para tomarem vinho e discutirem sobre suas posições em relação ao uso do
Graal. Aqui, percebemos a verdade de cada um. A palavra verdade, aqui usada, tem
o sentido defendido por São Tomaz de Aquino.
“A verdade tem
contornos ambientais e cada um a reconhece, à sua maneira, através de estados
íntimos nem sempre transferíveis e tão pouco comunicáveis.”
O diálogo
mostra claramente, essa verdade, isto é, o que cada um presenciou e viveu em
sua época, dando a clara distinção do que cada um percebe como destino do “Rei”.
Em meus estudos, percebo que mores é um conjunto de
valores que um indivíduo segue e que, coletivamente, sendo adotada por uma
sociedade, dá lugar ao ethos
(ética) que a estuda e regulamenta.
Rider demonstra,
em um texto claro, que a conduta do rei deveria ser para sua satisfação
pessoal. A conduta do rei diz respeito a ele unicamente. O Rei usa a nação para
seu benefício pessoal. O rei não deve satisfação a ninguém. Alexandre- O Grande
demonstra que o mores de sua época
beneficiava unicamente o rei pela visão mística que a sociedade tinha da
família real, em especial o rei. É a clara definição de mores, isto é, “do conjunto de normas associadas a ideias sobre
formas lícitas e ilícitas de comportamento, conjunto este aceito e sancionado
por uma determinada sociedade” (Marcus Cláudio Acquaviva). Rider demonstra, com
isso, sua força e sua paixão pela liderança. Força e paixões que conquistaram
um exército de heróis que lutam por ele e para ele. Um carisma tão intenso,
digno de líderes extremistas, que abraça toda uma sociedade e a converte em
peões usados para seu próprio proveito.
Saber já
demonstra um outro lado da conduta do mores, o que eu considero o êthos (como definição
em latim para caráter). Saber tem,
como visão, que o rei deveria servir seu povo e protegê-lo. Que sua satisfação
era proteger seu país e vê-lo reerguido como uma nação forte e novamente
dominante. O amor à pátria. Diferentemente
da paixão insana que abraça a causa de Alexandre, o amor patriótico de Saber
não deseja o sacrifício pessoal de seus cidadãos. Considero o ethos, pois a visão da Saber é mais coletiva, e Rider é,
teoricamente, um rei individualista. Enquanto, Saber demonstra um ethos, o Rei dos Conquistadores
demonstra um mores individual.
Para deixar
mais clara a definição entre eles, Osvaldo Ferreira de Melo, doutor em Direito,
e professor aposentado da UFSC, assim relata o ethos, “Ética já não é entendida como objeto descritível de uma
Ciência, nem tampouco como fenômeno especulativo. Trata-se agora de conduta
esperada pela aplicação de regras morais no comportamento social, o que se pode
resumir como qualificação do comportamento do homem enquanto ser em situação”. Virginia E. N. Raymundo assim explica: “A
ética é coletiva, não sendo coercitivamente imposta, nem tem sanção para o seu
descumprimento, exceto a reprovação popular”.
Gilgamesh, o
rei dourado, interpõe pouco no diálogo, que fica restrito à Rider e Saber, mas
em suas poucas palavras nota-se a clara definição, da tarefa do Rei, de guiar
através de Leis impostas por ele. Sua posição é de superioridade, por ser Rei
dos Reis, então, pouco importa a ele defender sua opinião. Sua vontade, e sua
palavra, é soberana. Ele apenas observa seus rivais. Gilgamesh é a
representação da lei soberana. É até engraçado, pois, enquanto ethos e mores duelavam em um debate intenso, a lei permanecia calada,
apenas observando.
Poder absorver
tudo isso, simplesmente em um capítulo, me fez render-me ao roteiro. Roteiro
que nos tira da zona de conforto, nos apresenta um universo palpável, com personagens carismáticos e
reviravoltas interessantes. Essa série é ótima!