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Anime Ken TV e Solidão

 Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!

Ghibli pode ser fechado!


 No vídeo de ontem, descrevi o que sentia sobre o indivíduo. Em No Game, No Life Yuu Kamiya descreve a força do indivíduo como a potencialidade máxima da humanidade. Acreditar na humanidade é acreditar no potencial de aparecimento de seres que se destacam e que fazem a diferença. E isso é tão verdadeiro que se comprova diariamente. Melancolicamente escrevendo, estamos presenciando isso de uma maneira única, com o caso Ghibli.


Princesa Mononoke



O estúdio sempre teve como marca o trabalho do mestre Hayao Miyazaki, sendo ele a sua mais forte identidade e imagem. Segundo o site Marketing Futuro, “Identidade de Marca é a representação única, condensada e particular de todas as dimensões (cultural, física, semiótica etc.) e manifestações (visual, sonora, olfativa, tátil etc.) de uma marca. Desta forma, a identidade confere diferenciação a uma marca, bem como o conhecimento e o reconhecimento por seus possíveis consumidores”.


Para os japoneses, Ghibli é Hayao Miyazaki. Suas obras mais importantes, como Meu Vizinho Totoro, Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado, Ponyo, Vidas ao Vento, assim como tantas outras obras, foram assinadas pelo mestre em questão. O logo do Ghibli, para ver a importância da obra do diretor, é o Totoro. Logicamente, não eram esses os únicos trabalhos do Ghibli, pois podemos ver uma boa diversidade de conceitos e obras aqui. Entretanto, Miyazaki era seu mais proeminente diretor. Ao pensar em Ghibli, imediatamente o Japão assimilou o estúdio pelas obras de Hayao, assim como os fãs ao redor do mundo.


Hayao Miyazaki



Isso não é exclusividade do Ghibli, pois a Apple tinha em Steve Jobs a sua identidade e seu mais famoso “garoto propaganda”. Para Ghibli, a identidade foi formada pelo trabalho de Hayao e Takahata, como nos mostra o livro Studio Ghibli: The Films of Hayao Miyazaki and Isao Takahata: “In this book we will be covering the major pre-Ghibli works by Takahata and Miyazaki because they are crucial to understanding the artis’ development and the emergence of the Ghibli ‘house style’.”


E isso proporciona muitas vantagens, mas muitas desvantagens. Ao anunciar aposentadoria, Hayao iniciou uma crise de identidade para a empresa, afinal, quem os representaria dali em diante? Essa questão, confesso, foi uma das primeiras que me fiz ao ler sobre a aposentadoria do diretor. Parece-me que um dos co-fundadores também a fez. Veja mais nos parágrafos seguintes.


Toshio Suzuki iniciou um estudo de campo através do próximo filme, já lançado no Japão, When Marnie Was There, e afirmou que o sucesso, ou o fracasso, do filme pode contribuir para o fechamento do Ghibli. Em  Studio Ghibli's Latest Film "Marnie" Earns Less Than Half of"Arrietty" in 1st Weekend, o co-fundador do estúdio revelou que está pensando em fechar a empresa caso o filme não vá bem em bilheteria. Infelizmente, o filme está abaixo dos padrões de lançamento do estúdio, embora tenha tido êxito em seu fim de semana de estreia.

Fonte: Box Office Mojo



 A matéria destacada no link do parágrafo anterior comete o mesmo erro que muitos jornalistas realizam ao tentar verificar um sucesso. Eles comparam um filme com outro. Eu não aceito que se use um filme para verificar o sucesso de outro. De modo artístico, ou pelo olhar do fã, ou pelo objetivo empresarial, ou pela renda única, isso não tem nenhum valor, mas é um parâmetro usado erroneamente por jornalistas para medir seu lucro. Um filósofo já havia dito que a mesma pessoa não pode se banhar no mesmo rio duas vezes. Com isso, ele afirmava que as coisas mudam e esta transitoriedade se aplica às empresas. Acreditar que um filme deva ser comparado a outro é acreditar que se pode banhar no mesmo rio duas vezes. No ramo empresarial, sabe-se que o mesmo produto pode ter resultados diferentes, bem como produtos correlacionados, dependendo de diversos fatores (data de lançamento, mercado, propaganda, oferta, demanda, moeda circulante, dívida pública, inflação, crescimento de mercado, PIB) pois tudo isso influencia. O que dirá, então, comparar produtos diferentes.


Pois When Marnie Was There fez um grande sucesso, entretanto, inferior a Arrietty como mostra a matéria, contudo, o que fará Suzuki fechar as portas do Ghibli não é se este filme fez menos que o anterior, mas se este filme conseguiu atingir as metas estabelecidas: percentual de lucro, percentual de críticas positivas, repercussão positiva na mídia e no exterior e distribuição internacional dos direitos de exibição e renda. Se When Marnie Was There conseguir se pagar, receber boas críticas e atingir metas que garantam a subsistência da empresa, então, acredito que o Ghibli não será fechado.  






Na verdade, isso é uma crise de identidade estabelecida com a aposentadoria do Miyazaki. O fechamento do Ghibli demonstraria esse conceito, mas seria uma resposta aquém de qualquer CEO. Um verdadeiro empresário tentaria administrar a crise de identidade e salvar a empresa. Mesmo se o filme fosse um fracasso, e ele não é, o Ghibli tem títulos rentáveis em sua biblioteca de séries e filmes que podem manter o estúdio até a reformulação de sua identidade. Ele possui direitos autorias para obras que pagam os custos do Ghibli. Resta um bom plano de reformulação para criar uma nova imagem do Ghibli, sem apagar o passado glorioso que foi estabelecido com os sucessos do Miyazaki. 



Crise de Identidade


Carlos Miranda dá conselhos para empresas em crise no artigo Como gerenciar uma crise de imagem, e ele afirma: “Ter uma lista de ações já pré-desenhadas e discutidas entre os principais colaboradores e sócios, da mesma forma que em uma simulação de incêndio, ajudará na obtenção do necessário equilíbrio para sair da zona de risco e evitar saltar pela janela a cinco minutos da chegada do resgate”.


Wagner Miranda Rocha define algumas ferramentas que podem auxiliar em uma crise. Veja aqui. Segundo ele, "Dentre as ferramentas que nenhuma empresa, por mais simples que seja, deve deixar de implementar estão os Sistemas Integrados de Gestão Empresarial. O mercado oferece diversas possibilidades denominando-os ERP (Enterprise Resource Planning) e a Contabilidade Societária e Gerencial. Vale muito a pena investir nisso." Ele continua: "Quando o empresário percebe a importância de se prever crises e compreende como um manual de atitudes pode contribuir com o aumento da eficiência, e por consequência com a geração de riqueza para a empresa, ele passa a considerar todo gasto com a implantação e manutenção como investimento e trata o assunto como estratégico". 


A aposentadoria do Miyazaki foi revelada anos atrás, ou seja, com tempo suficiente para se montar um planejamento anti-crise, com ações definidas para se devolver a estabilidade empresarial, portanto, o fechamento do Ghibli pela aposentadoria do Hayao não me parece ser a medida correta. A Apple teve um tempo conturbado após a morte de Steve Jobs, mas soube sair da crise de identidade. Pode-se lutar pela sobrevivência do Ghibli, essa é a minha opinião! E vamos torcer para que Suzuki-san não feche este estúdio!


Eu prevejo que Suzuki, caso venha a fechar o estúdio, o fará para honrar o trabalho da casa. Se assim o for, muitas empresas tentarão comprar os títulos do Ghibli. Posso até ver a manchete dos principais meios de comunicação alardeando: "Dinsey compra catálogo de títulos do Ghibli" ou "Disney compra o estúdio de seus co-fundadores". 



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