Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!
História fictícia
Chovia naquela noite. Eu lembro dos detalhes de cada passo.
Estava sentado em uma cadeira no corredor da faculdade. Uma cadeira
desconfortável, que não me permitia relaxar. Esperar pelo término da aula da
minha mãe, que estudava Direito na Pós-Graduação, era uma das minhas atividades
noturnas. Eu a acompanhava até em casa, pois me sentia melhor assim. Dava-me
maior segurança não deixa-la andando sozinha à noite.
A aula dela ainda não havia terminado, mas o vento frio da
noite chuvosa entrava impiedosamente pelas diversas janelas abertas. A estrutura da arquitetura deste prédio era interessante. As salas
todas ficavam na parte esquerda do corredor, enquanto as janelas de observação
para o pátio ficavam na parte direita. Não era uma estrutura funcional para uma
faculdade e nem parecia ter sido criada para tal propósito. Até o rodapé do
corredor era curvo para facilitar a limpeza. Não vejo isso com muita frequência
em prédios de faculdade.
Como a aula não terminava, e eu estava sendo castigado pelo
frio da noite, resolvi levantar da péssima cadeira e andar até o banheiro, que
ficava na outra ponta do corredor. Seria interessante esticar as pernas, então,
resolvi andar. Planejava pegar um café depois. Estava andando, olhando para o
chão. Ao me aproximar do fim do corredor, notei uma presença pelo canto do meu
olho. O reflexo, na janela que dava ao pátio, de uma senhora com cabelos
curtos, lisos e pretos. Ela me olhava com certa raiva e estava com uma camisa
branca. De pele morena, a senhora não tirava os olhos de mim. Olhos pretos que
me fitavam através da mesma janela que eu a observava. Resolvi cumprimenta-la.
Ao tirar meus olhos do reflexo da janela, e virar o rosto em
direção a ela, espantei-me. Não havia ninguém na porta da sala. Entrei para ver
se ela havia ido se sentar. Sala vazia. Não poderia ser mais clichê esta
situação em uma noite chuvosa, mas estava acontecendo comigo. Naquele instante,
resolvi me afastar da porta. Fui em direção ao banheiro. Foi a pior mijada que
dei na minha vida, pois me sentia observado a todo instante. A impressão que eu
tinha era de que alguma coisa iria pular a porta do banheiro e me atacar. Maldita Samara e seu filme do poço japonês! Fiquei lembrando desse filme, enquanto estava no banheiro.
Lavei as mãos, sempre observando a porta do banheiro. Saí,
peguei meu café e fui me sentar novamente. Encarava desconfiado o corredor. Da
sala da minha mãe, um amigo dela sai para ir ao banheiro. Eu o cumprimento com
um gesto de cabeça. Mateus, este amigo da minha mãe, vai em direção ao fim do
corredor. Volto-me aos meus pensamentos, quando o ouço:
--- Boa noite!
Ao ouvir o cumprimento, avanço o olhar em direção a ele. Foi
o tempo suficiente para ver que ele estava cumprimentando alguém naquela mesma
sala vazia. A reação dele me assusta, pois ele recua, colocando os ombros para
cima. Os ombros arqueados é sinal de susto e tensão. O recuo é sinal de
surpresa, quando precisamos nos afastar instintivamente de algo que nos
atemoriza. Ele tinha tomado um susto com algo.
Eu o espero retornar do banheiro. Não digo nada, para não
influenciar qualquer reação. Desejo apenas observar. Ele estava com olhos
fixos, mordendo o lábio inferior e as mãos no bolso. Olhos preocupados e a
tensão ao morder o lábio dão sinal de que ele ficou pensativo quanto ao
ocorrido, assim como eu. As mãos no bolso indicam o frio da noite e a tentativa
de se aquecer. Fiquei pensando nisso até o término da aula.
Já estávamos de saída, eu e minha mãe. No nosso momento da
partida, resolvi conversar com o segurança do prédio. Eu me direcionei a ele e
o cumprimentei. Ele estava conversando com a atendente da guarita, mas parou
para me ouvir. Então, perguntei:
--- O que era esse prédio antes de ser uma faculdade?
A minha resposta não vem dele, mas da atendente do
estacionamento. Ela vira-se rapidamente para mim, com os olhos arregalados. Ele
abaixa a cabeça. Eu volto a perguntar, desta vez olhando para ela. Ela
responde:
--- Era um hospício!
Desse dia em diante, sinto como se fosse observado a cada
momento que espero minha mãe naquele corredor.