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Anime Ken TV e Solidão

 Aproveitando a polêmica que lancei sobre a abertura de Dan Da Dan, venho indicar o canal Anime Ken Tv que, por sua vez, analisou a abertura. Ele é músico profissional e é especialista em guitarra! Se clicar e gostar do vídeo, se inscreva lá e faça-o crescer! E, de forma inesperada, um youtuber japonês fez um vídeo essa semana desabafando sobre a solidão no Japão. O vídeo mostra que a crise da masculinidade, veja texto de segunda-feira da semana passada, está afetando o Japão com muita força. Samurai Daddy é casado, com filho, e se sente sozinho e solitário, muito por conta da confusão de papéis que vivemos hoje em dia. É um relato que confirma e aprofunda o tema da crise. Assistam!

Milagre no Lockdown

 Milagre no Lockdown


Yoko é uma mãe solteira, que vive com sua filha de 12 anos em uma cidade próxima à Tóquio. Recém separada de seu marido, a jovem mãe de 30 anos ainda exubera a beleza de uma mulher japonesa clássica. Ela também é muito orgulhosa. Ao perceber a traição do marido, que se encontrava secretamente com sua melhor amiga, ela se separou e nada exigiu do marido, nem mesmo uma pensão. “Eu não quero nem mesmo o dinheiro desse sujo”, pensou ela em um momento de orgulho. Em seu íntimo, ela acreditava que poderia sustentar sua filha apenas com seu trabalho de corretora de imóveis.


Então, veio a doença e o lockdown. A imprensa disse que seria apenas 40 dias para achatar a curva e conter o pico da epidemia. Que uma vacina estaria pronta em questão de um ano. Ela acreditou. A filha foi proibida de sair de casa. Ela foi colocada em standby pela empresa, que vislumbrou um momento de crise maior e definiu o organograma de trabalho de acordo com a eficiência de seus funcionários. Ela não se importou. Ela tinha reservas de capital e acreditava que seria apenas por 40 dias. 


Passaram-se 8 meses e sua reserva foi diminuindo, quando soube que seu pai havia contraído a doença e tinha perdido parte do pulmão. O amado pai precisava de um transplante de pulmão e cuidados na UTI, mas seu seguro não cobria tais eventos. Ele sempre foi um pai presente e protetor. Lavrador, ele sempre educou suas filhas para o trabalho e para o moralmente correto. Ao receber o e-mail de sua mãe, com tais notícias, ela se prontificou em ajudar. Orgulhosa, ela pensou: “meu pai precisa de mim, e eu posso ajudar. Eu sou suficiente”;  e, dessa forma, foi ao seu banco e pegou o maior empréstimo que poderia. Como ela ganha por comissão, seu limite de empréstimo era alto e seu orgulho era maior ainda. “Eu pago o banco ao vender dois ou três apartamentos. Eu consigo! Eu sou suficiente!”, pensou ela. Ela pegou o empréstimo, transferiu para a conta da mãe e se sentiu uma heroína ao receber a gratidão da mãe, com lágrimas no rosto e uma foto de seu pai, entubado, com olhos entreabertos e fazendo o V de vitória. 


Após um ano da pandemia, o governo começara a abrir novamente o comércio e os serviços. Passaram-se quatro meses e a reserva já não mais existia, sendo totalmente consumida pelas despesas pessoais e médicas de seu pai, além do empréstimo que tomava conta do restante de seus débitos bancários. Ela telefonou aflita para seu chefe, pedindo seu retorno imediato ao trabalho. O chefe concordou e ela retornou ao trabalho, no setor de vendas de apartamentos usados. Esse era o setor mais fraco da empresa, e o que mais possuía corretores. Seria um combate conseguir vender algo. 


Suas chances foram diminuindo com o tempo, pois não conseguia fechar nenhum negócio. A pressão externa, com dívidas e a saúde de seu pai havia afetado seu desempenho em vendas. Dezoito meses sem receber salário, suas reservas, enfim, haviam acabado. Seu pai estava em recuperação, lutando para se colocar de pé após o transplante bem sucedido. Sua mãe ajudava-a, enviando legumes e verduras colhidos no pequeno sítio de sua família. A caixa com os alimentos sempre chegava com um sorriso desenhado em uma cartinha, escrita pela irmã: “Força!”. Ela se orgulhava de sua família e de sua criação, mas a pressão das contas não pagas, bem como do financiamento que ela fez, a colocavam constantemente sobre pressão. Sua filha também precisava  dela. Ela precisava pagar as contas de condomínio, gás, luz, telefone, internet, alimentos. Enfim, tudo começava a colocar à prova seu orgulho. Quando, sem aviso, chegou uma carta de demissão. A empresa dela também havia chegado no seu limite. 


O mercado estava tentando se recuperar, após vinte e quatro meses do início da pandemia. Uma nova cepa do vírus fez com que os governos voltassem ao lockdown por um período curto de tempo. A população, sem dinheiro, pressionou com protestos pela abertura da economia. Após intensos combates, o governo cedeu. Em desespero, Yoko cedeu ao seu orgulho e pegou um empréstimo com a máfia japonesa. Sua situação exigiu tal medida, pois ela não tinha mais a quem recorrer. Ela pensou que poderia pagar tudo assim que ela voltasse a trabalhar. Entretanto, achar um novo emprego não foi fácil e o empréstimo havia acabada e suas dívidas estavam crescendo, inclusive com a máfia que já a ameaçava. 


Em uma determinada noite, ao chegar em seu apartamento, ela encontrou dois cobradores da máfia. Corajosa, ela se aproximou de sua porta. “Minha filha! Eu não posso deixar que eles cheguem na minha filha!”, pensava ela. Como uma matriarca que se colocara para o sacrifício, ela se aproximou, olhou os dois nos olhos e disse: 


--- Eu arranjei um emprego. Começarei amanhã. Eu peço que esperem. Assim que vender um apartamento, eu darei toda a comissão de vendas para vocês! Por favor, esperem um pouco mais! --- Yoko se curvava perante pessoas que ela tinha sido ensinada a evitar mas que, nesse momento, estavam ali, em sua porta.  


Antes que ela pudesse reagir, ela é agarrada pelo braço e lançada com força em direção à porta. Seu braço é imobilizado para trás. Ela tenta dar um chute no agressor, como uma espécie de coice de cavalo, mas sua perna é imobilizada também. Ela nota que um dos agressores, aquele que, nesse momento, a imobiliza, é uma mulher. “Uma mulher? Essa pessoa pequena é uma mulher?”, diz ela espantada por ter sido imobilizada por alguém menor que ela. A agressora, com uma rasteira, a joga no chão, entrelaçando suas pernas e braços em uma posição de wrestling, deixando-a imobilizada. Por mais que se debatesse, ela não conseguia livrar nem os braços nem as pernas. 


--- Você é bem gostosa, tia! Eu vou gostar de fazer uns pornô contigo! --- disse a pequena mafiosa, enquanto acaricia os seios e vai descendo a mão até os quadris da Yoko. Yoko ainda tenta se debater, para o delírio da agressora, que adora o esforço dela e sorri maleficamente. 


--- Já chega, Mako-kun! Solte-a! Não queremos que ela perca vendas, por conta de alguns roxos nesse corpinho lindo dela. --- disse o outro mafioso. A jovem agressora libera a Yoko, que permanece no chão, ainda tentando desentrelaçar seus braços e pernas. 


--- Sabe, Yoko! Se você não conseguir pagar o que deve até o fim do mês, você vai pagar de qualquer jeito. Hoje, eu vim te apresentar a Mako-kun. Ela é quem vai te cobrar a dívida, através de alguns vídeos que faremos para o pessoal da Deep Web. Ela é profissional nesse tipo de filme e, tenho certeza, você não vai gostar nadinha do resultado. Acredito que após três dias, você nem estará mais viva. Não tema, os vídeos da Mako dão muita grana e sua dívida será plenamente paga. --- O outro mafioso sorri. 


Quando os dois vão embora, Mako ainda abaixa e lambe o rosto da Yoko. “Tchau, bebê!”, diz ela. O sentimento da Yoko é que ela encontrara um pequeno texugo, que a mataria sem pestanejar, sendo ela uma lebre em suas mãos. Yoko, quando percebe que os dois forma embora, se levanta e, com as mãos trêmulas, abre a porta de casa e vai direto ao chuveiro se limpar. Ela se sente suja, asquerosa e imunda, principalmente porque cedeu ao desespero e fez contrato com o pessoal que seu pai havia advertido para não lidar. Agora, ela paga o preço por desobedecer. Durante o banho, ela se lembrava da fé de seus pais. Fé essa que ela não abraçava, pois se achava suficiente. Na infância, ela dizia: “Eu não preciso de entidade invisível nenhuma, pois eu me basto”, agora, ela lembrava com amargura de suas palavras da infância.  Em um sinal de respeito pelas memórias, ela faz um sinal religioso, em respeito a uma entidade que ela nunca havia se ajoelhado.


Ao sair do chuveiro, havia uma mensagem de seu novo chefe. “Apresentação de imóvel 125887 amanhã, às 11h00. Interessado: senhor Hércules.”. Seria essa a chance? Vou poder escapar desse tormento? São dúvidas que tomam conta da cabeça dela e não permitem que ela durma. Ela passa a noite toda acordada. 


No dia seguinte, ela se apresenta ao trabalho e leva o senhor Hércules até o imóvel que ele gostaria de comprar. Hércules é um brasileiro, são paulino, torcedor do Santos. Um empresário de sucesso no ramo  de segurança empresarial, que estava abrindo uma filia em Tóquio, de sua empresa. Tudo isso constava no cadastro do empresário junto à imobiliária. Com seus 190 centímetros, o loiro, descendente de alemães, impressionava a Yoko, que, com seus 160 centímetros, parecia uma colegial peto dele. Por um momento, ela imaginou, lado a lado, Hércules, ela e Mako (150 centímetros). 


--- Seus olhos estão divagando. No que pensa? --- diz Hércules. 


--- Desculpe-me! --- Yoko se curva em perdão. --- Estava pensando em uma amiga que foi surrada por uma garota mais nova e menor. 


--- Ah! Hoje em dia, com as artes marciais avançadas, diferença de tamanho não significa muito. Aliás, em lutas profissionais, até mesmo a diferença de 5 a 10 quilos pouco importa também. --- explica Hércules. 


Yoko se mostra mais aliviada, pois as palavras dele acariciam seu orgulho ferido, por ter sido derrotada por uma garota menor e mais jovem. “Peso e altura não importam. Idade também não!” diz ela sorrindo como se tivesse entendido algo. Só ela sabe como elas palavras a ajudaram a superar essa derrota. Só ela sabe.  


--- Ainda não é esse imóvel! Eu vou buscar outros dois, antes de decidir”. --- diz Hércules.


O coração da Yoko começa a acelerar forte, pois parece ser mais uma venda perdida. Ela acompanha o senhor Hércules nas duas visitas restantes e apresenta os imóveis da melhor forma possível. Entretanto, Hércules não apresenta empolgação em seu olhar. No final da visita do terceiro imóvel, Hércules diz, para desespero da Yoko:


--- Eu não gostei de nenhum. Obrigado pelo seu tempo. Vou pensar mais à respeito. 


A pressão pesa sobre a jovem mãe, que pensa em seu pai lutando pela reestruturação de sua saúde, em sua filha e, por fim, na sombra demoníaca de Mako, que surge como a um demônio queimando suas lembranças com maldade. Ela começa a suar frio, sua respiração fica ofegante. Ela chega no limite e o desespero toma conta de sua mente. Com tanta pressão, ela não percebe nem o que diz. Ela apenas quer vender. Ela quer o dinheiro, para se livrar da Yakuzá. Para pagar as suas dívidas. Para poder viver com dignidade novamente e sobreviver à Mako. Nesse momento, quem a controla é o ID e o controle do ID a força a gritar um absurdo:


--- Por favor! Se você comprar qualquer um desses apartamentos, eu dou até o cu para você! 


Após tamanho desespero, e ao ver a cara de espanto do Hércules, com muita vergonha, ela foge da presença do brasileiro, que, perplexo, a deixa ir. Ela entra em prantos. Acabou. O orgulho desmoronou. Totalmente quebrado, o emocional dela sucumbe às pressões. Na manhã seguinte, ela  diz para a filha passar um tempo na casa de alguns amigos. Ela deseja proteger a filha. Em seu interior, não havia mais condições de vencer sua sina. Ela havia se entregado à sensação de derrota. “Vou fugir! Vou para a casa de meus pais!”, pensou ela, ao se despedir de sua filha. “Amanhã, eu vou embora! Não me acharão!”, pensa ela.


Nessa mesma noite, após mandar mensagem para a filha, dizendo que estava bem, ela ouve sua porta se quebrar. Ao ir em direção à porta, ela encontra 4 vultos na sua frente. Mako é um deles. Com medo na voz, ela diz:


--- O acerto seria até o fim do mês! Vocês me enganaram!


--- Yoko-chan, acha que deixaríamos você sem uma sombra para te seguir? Nosso olheiro viu você perdendo a venda. Quando mandou sua filha para a casa de amigos, soou o alarme de que tentaria fugir. Para evitar isso, aparecemos. Quem quebrou o contrato foi você! --- diz ele, depois de puxar um cigarro calmamente. --- Mako, pega! 


Ao receber a ordem, Mako gargalha alto e avança como um cão contra Yoko. Yoko estava com um pijama curto de duas partes.  Ela tenta evitar o avanço da Mako, jogando nela um abajur. Mako se esquiva com perfeição. Ao ver a aproximação iminente da Mako, Yoko tenta chutá-la, só para ver  Mako a agarrar pela coxa. Antes que Yoko pudesse agarrar Mako pelos cabelos, a mafiosa a gira forçando um desvio no joelho da perna que ela agarrara. Dando um passo à frente, Mako faz Yoko cair de frente, em cima do sofá. Com destreza, a mafiosa amarra as mãos da indefesa Yoko por trás e, usando um ziptie, a imobiliza. Em seguida, ela junta os cotovelos de sua presa e os imobiliza com fita. Com as mãos completamente imobilizadas, ela esperneia e tenta gritar. Mako, em cima de sua vítima, se aproxima de seu rosto e, no momento em que Yoko abre a boca para gritar, ela enche a boca dela com uma bola de meias, mantendo-a lá com uma fita tape. 


Yoko tem seus gritos abafados e percebe que um dos mafiosos já a está filmando. Sua humilhação está sendo gravada. Mako, então, agarra uma das canelas de sua vítima e consegue dobrar até que o pé da Yoko toque em suas nádegas. Imobilizando dessa forma, ela começa a enrolar a perna dela com a mesma fita. A perna branquinha começa a ficar vermelha por conta da ausência de circulação de sangue. Mako faz o mesmo com a outra perna. Amordaçada, com os braços amarrados e as pernas imobilizadas, Yoko se submete e desiste de lutar. Mako a vira de barriga para cima.


--- Olha! Yoko está ficando dócil! Essa égua vale muito! --- diz Mako rindo, enquanto, ainda sentada em cima de sua presa, dá uns pulinhos batendo a bunda na barriga da derrotada Yoko. 


--- Ela não é uma égua, mas, sim, ela vale muito! --- diz uma voz na entrada do apartamento. 


Cinco vultos entram no apartamento, para a surpresa dos mafiosos. O que estava filmando desliga a câmera. O que parece ser o chefe diz irritado:


--- Quem é você, seu porra?  Sabe que se intrometer com a máfia é tua morte, né, trouxa? --- grita o que parece ser o chefe da máfia. 



--- Eu sou o negociante em defesa de minha cliente. --- diz o vulto.


Imediatamente ele se cala. A presença dos cinco vultos é tão impactante que parece, aos olhos lacrimejados da Yoko, como cinco grandes leões, que enfrentam 4 hienas. Para a Yoko, ela é a lebre. Os mafiosos parecem entender da mesma forma, pois o silêncio entre eles é assustador. Mako consegue erguer completamente a amarrada Yoko e coloca uma faca na garganta dela, tornando-a sua refém. Yoko quer gritar, mas a mordaça não deixa.  Os cinco vultos se separam cobrindo regiões específicas. Os mafiosos percebem a movimentação que os deixa cercados.


--- Ei, guria com a faca, olha o que tem na cabeça de seu chefe. --- diz o vulto que se aproxima. Yoko percebe quem ele é. Hércules. Então, ele saca de uma arma de maneira tão veloz, que nenhum criminoso consegue reagir a tempo. Mako olha para a cabeça de seu chefe e percebe uma mira a laser.


--- Che… Chefe, eles te tem na mira! --- diz ela.


--- Eu já tinha percebido, Mako! Solta a Yoko! Pela sensação que eles me passam, só estamos vivos porque ela está viva. Eles também não vão nos deixar sair e a polícia deve estar chegando. --- diz o chefão, acendendo o cigarro.


Mako coloca Yoko no chão, de barriga para baixo. Como ela está amarrada em frogtie, seus pés ficaram para cima. Ela já não consegue ver o cenário direito. Hércules, porém, a consegue ver e se admira com a beleza de suas pernas, que parecem de uma donzela tirada de um conto de fadas. 


--- Então, qual vai ser a onda? Eu demonstrei boa fé e impedi que a Mako matasse a Yoko. Espero que façam o mesmo e baixem suas armas. --- diz o chefão. 


--- Pois bem! Eu não vim para matar. Estou aqui para defender a minha cliente e seus interesses. Qual sua proposta para sairmos daqui sem um banho de sangue? --- fala Hércules, guardando sua arma e sentando o mais próximo possível da Yoko. Ao sentar no chão, Hércules passa a mensagem que não deseja lutar, está tranquilo mas, se preciso for, matará. O chefe da máfia faz o mesmo e começa a contar um resumo da dívida. 


--- Coloque no papel a quantia, com juros, que ela deve. --- ordena Hércules após ouvir toda a história. 


Um dos capangas se aproxima e dá uma nota fiscal fria com valores. Hércules saca de seu celular e, após algum tempo, fala:


--- Qual a conta para depósito?


--- Vou te enviar o link da conta. O depósito será feito em cripto moeda, de preferência, Bitcoin. 


Após um tempo.


--- Satisfeito? --- Diz Hércules.


--- Ora! Ora! Você depositou o dobro do valor. Não vai ter devolução, cara! --- exclama o chefão.


--- Eu sei como essas coisas funcionam. Depois de pago, sempre surgem juros não computados e a dívida retorna, bem como seus cobradores, e o cliente nunca consegue se safar de vocês. Fiz isso na intenção de me ver livre de vocês de uma vez. Claro, dessa forma, na hipótese de seu retorno, já lhe digo que será sua morte. Que essa dívida termine aqui, pelo seu próprio bem. --- Hércules usa um tom de voz severo e agressivo mas, ao mesmo tempo, cordial.  


--- Está bem! Considere a dívida paga! --- diz o mafioso.


Mako olha desapontada para Yoko, como uma criança que acabara de perder seu brinquedo novo. 


--- Ha! Que pena! Eu queria muito gravar contigo! --- ela diz acariciando as nádegas da Yoko e dando nela um bom tapa. Yoko dá um gritinho abafado pela mordaça. 


--- Chega, Mako! Vamos embora! --- diz um dos mafiosos que está mais próximo dela. 

--- Vem cá, ôh, James Bond, ela vale tanto dinheiro assim? --- diz o mafioso, o último a sair do apartamento. 


--- Quando eu a vi pela primeira vez, ela era segura. Em seu pescoço, vi uma correntinha de um santo que eu também sou devoto. No carro dela, quando ela estava me mostrando apartamentos, eu vi a foto dela com a filha. Ambas sorrindo. Notei, saindo do porta-luvas, notas de contas não pagas, bem como a foto de uma senhora que, pela semelhança física, percebi que era sua mãe. Quando ela atendeu mensagem do celular, eu vi que era do pai dela mostrando a evolução clínica dele. Parece que ele estava hospitalizado. Disso tudo, eu tirei que ela era uma mulher de respeito, mãe, filha adorada, devota e trabalhadora. Apesar das pressões das contas não pagas, ela ainda sorria e me mostrava tudo com um olhar alegre por estar trabalhando. Então, ela vale bem mais do que eu paguei. O que te dei não faz jus ao que ela representa. --- explica Hércules. Yoko nada pode fazer. Além de muito comovida pelas palavras dele, ela ainda estava amarrada. 


Após a saída dos marginais, Hércules gesticula e seus empregados saem do apartamento também. Dois deles montam guarda na porta. O que estava no telhado, com mira laser, informa aos demais a saída dos mafiosos do prédio e os acompanha com olhar. Os outros dois voltam para o carro e aguardam ordens, vigiando. 


--- Pois bem, ora de desamarrar a donzela. --- Hércules ri. 


Após a desamarrar, ela estranha e se assusta.


--- Eu, eu não consigo mexer os braços e nem as pernas! --- diz ela assustada. 


--- Calma! Aquela baixinha te amarrou muito forte e cortou a circulação de sangue de suas extremidades. Como você acabou ficando muito tempo assim, é natural que seus membros estejam adormecidos. Vem cá, permita-me te massagear, para ativar mais rápido a circulação de sangue. 


Yoko nada diz e Hércules percebe aí que isso é uma permissão. Quem cala, consente. Ele foi extremamente profissional na massagem, mas aproveitou cada segundo para vislumbrar a beleza clássica de uma mulher japonesa. Ele ficou encantado com tamanha beleza e equilíbrio de proporções. Após mais de 24 meses sem ser tocada por ninguém, Yoko não consegue segurar seu contento e seu êxtase. Ela quase deixou soltar um “nyan”. Quando conseguiu voltar a sentir e movimentar seus membros, Hércules parou. 


--- Grande! Agora, está tudo formigando e dando choque! Por isso que eu detesto shibari. --- reclama ela, fazendo um “pout”. Hércules sorri. 


--- Hércules-sama, como você descobriu aonde eu moro e porque veio até aqui? Não que eu esteja reclamando. --- diz ela, curiosa, mas evitando contato visual.


--- Como disse agora, aquela era a imagem que eu tinha de você, e ela não mudou, mas quando você entrou em desespero, em pânico, e me disse aquilo (nesse momento Yoko esconde o rosto de vergonha), eu notei que algo muito grave estava acontecendo contigo. Algo que era questão de “vida ou morte”. Então, quando você saiu correndo, eu comecei a investigar e descobri esse seu problema.  Nesse momento, eu peguei seu endereço e corri para cá para oferecer meus serviços. --- Hércules é interrompido por uma Yoko envergonhada e ainda com as mãos no rosto. 


--- Isso não era problema seu, então, porque me ajudou? Eu não te contratei. 


--- Meu avô, quando disse que eu iria abrir uma empresa de segurança me disse que eu deveria, além de tudo, ser sensível e prestativo para aqueles que estavam passando por situações graves. Que ele só me daria sua benção, se eu prometesse ajudar qualquer pessoa. Eu concordei e meu avô me abençoou. Acredito que muito do sucesso da minha firma venha pela benção de meu avô e eu aprendi, com isso, que o bem mais precioso que eu posso proteger é a vida de uma pessoa. Isso não tem preço. Você não tem preço! Por isso, usei um contrato unilateral (Yoko faz uma cara, como se perguntasse: “existe contrato unilateral?”) para te ajudar.


--- Então, você vai me deixar pagar esse contrato unilateral. Quero torná-lo bilateral e quero te pagar tudo que eu te devo. --- diz uma Yoko com olhar confiante. Hércules até percebeu um vaporzinho saindo das formosas narinas dela, como se ela estivesse empolgada. Hércules sorri. 


--- Então está certo! Eu quero te contratar como minha assistente aqui em Tóquio. Uma pequena parcela do seu salário será retido para pagar essa dívida. --- diz um gentil Hércules. 


--- Sim! Sim! Obrigado!… o quê? --- Yoko para um instante, confusa. --- Eu estou contratada por você? 


--- Sim. Desse jeito, eu garanto o cumprimento do acordo. Não se preocupe, eu vou te pagar tão bem que essa parcela nem vai fazer falta. 


--- OooooH! --- exclama uma Yoko surpresa. --- Então, está feito! Um salário fixo no fim do mês é uma benção! Obrigada! Mal posso esperar para contar para minha filha!


Os dois se cumprimentam.


--- Antes que sua filha retorne, eu vou dar um jeito na porta. --- diz Hércules olhando para a porta caída. 


Yoko sorri para Hércules, que retribui e os dois apertam as mãos selando seu acordo. 


Hércules fica olhando para Yoko. 


--- Que foi?


--- Nada! É que eu pensei em comprar 3 apartamentos contigo, aproveitando que você ainda não pediu demissão, para te dar a comissão da venda dos três. --- Explica Hércules.


--- Oooooh! Obrigada! Você é um santo! --- agradece Yoko.


--- Lembra que você disse que me daria o cu se eu comprasse um? E se eu comprar 3, o que você me dá? --- diz Hércules brincando. 


Yoko grita vermelha e lança nele todas as almofadas da sala. Ele se desvia delas e sorri. Ambos começam assim sua noite e sua parceria.  






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