Persona 5 Royal
Após ser obrigado a se transferir para um colégio em Tóquio, o protagonista tem um sonho estranho. "Você é um prisioneiro do destino. Em breve, a ruína chegará para você." Para se "reabilitar", ele deve usar a máscara de um Phantom Thief para salvar os outros dos desejos distorcidos.
(Do site do Jogo no Xbox)
O início com alguns pequenos spoilers!
Persona 5 Royal é um JRPG com um enfoque em batalhas de turnos
e uma história complexa digna de uma light novel. O jogador deve entrar na pele
de um jovem estudante que teve sua vida arruinada por defender uma mulher de um
assédio de um bêbado. Infelizmente, o bêbado não era um qualquer e a vida do
nosso personagem é virada de cabeça para baixo, com uma acusação de agressão confirmada, inclusive, pela mulher que o personagem tentava defender. Com um discurso
furioso, o tal bêbado consegue manipular a todos à sua volta e tem fortes
relações com o governo e a força policial. Nosso personagem, assim, é condenado
sem muitas chances de defesa.
Com a vida destruída e sob custódia, nosso personagem é enviado
para outra cidade e tem um novo tutor para lhe cuidar e vigiar. Como se não
bastasse tal infortúnio, nosso personagem se envolve com uma dimensão cognitiva
paralela à nossa, criada pelo nosso aprendizado, e é escolhido por uma entidade superiora para enfrentar as
distorções dos corações humanos, e, desse modo, evitar a própria ruína,
conseguindo a sua reabilitação. Ele, portanto, luta contra o tempo para evitar
a própria morte também. Junto a aliados que farão parte de seu grupo, o The
Joker (codinome do nosso personagem quando ele entra nessa dimensão paralela
chamada Metaverso) fará de tudo para defender a justiça e transformar os
corações de bandidos, para que eles se arrependam de seus pecados. Para
enfrentar tais bandidos, Joker e seu grupo entram em suas mentes e, através do
poder de suas máscaras, lutam contra essas distorções de comportamento. É algo
bem ao estilo do mutante telepata Charles Xavier, ou do antigo herói do rádio
que chamavam de The Shadow.
Gameplay
Persona 5 Royal é uma história longa, com muitos diálogos, ora profundos, ora engraçados, mas que se completam e formam um enredo muito bom. O jogador deve fazer escolhas tanto de diálogos, como de personas (seres cognitivos que funcionam como armas) pois cada persona tem suas fraquezas e fortalezas, forças e defeitos. Um conceito interessante aqui é justamente esse de persona, que são seres que representam pensamentos, muitos representam personagens literários, que são incorporados pelo Joker e seu grupo para lutarem contra as distorções. É um bom RPG de turno, muito bem equilibrado, mas, voltando sobre o tema “diálogos”, eles são fundamentais, pois são eles que te guiarão para um dos possíveis finais do jogo. Sim, os programadores criaram chaves para um “verdadeiro final”, então, aconselho darem uma estudada em algum guia para saber o que fazer.
Além de lutas, usando o persona correto, pois o The Joker
tem a capacidade de guardar inúmeros personas dentro de sua máscara, o jogo te
dá condições de desenvolver habilidades de seu personagem que serão
fundamentais para conseguir evoluir a afinidade dele para com os outros membros
de seu grupo e até personagens que serão fundamentais para tirar a corda do
pescoço dele no último momento. Esses personagens são conhecidos como
confidentes e cada um deles requer a evolução de uma habilidade do Joker, tal
como a Ann. Sem o charme no nível correto, você acabará não conseguindo evoluir
sua amizade/namoro com ela, ou qualquer outra personagem. Suas habilidades em
questão a serem evoluídas são: Intelecto, Charme, Destreza, Coragem e
Gentileza. Cada confidente responderá ao avanço de alguma dessas habilidades. E os personagens são ótimos! Cada um deles tem uma profundidade emocional incrível, como a Futaba. Confesso que foi ela a que mais me fez sentir afinidade. Não vou entrar em detalhes para não dar spoilers.
Dessa forma, o gameplay se torna bem extenso, com muitas
atividades, diálogos, lutas e labirintos. Sim, o mundo cognitivo possui diversos
labirintos nos quais os personagens lidarão com inimigos, quebra-cabeças e
muita ação. Esses labirintos se chamam castelos e são formados pelas distorções da psiquê do vilão, ou alvo em questão. Clique aqui para ver como chegar ao final verdadeiro e veja uma pequena lista de
confidentes.
Psicologia
O que me chamou muita atenção no enredo desse jogo foi o uso
muito bem feito de máscaras sociais e cognição. O universo dos labirintos é
formado pelo processo cognitivo dos alvos e tanto Joker, como seus amigos, usam
do poder de máscaras para lidar com as defesas dos seus alvos. O universo de
aprendizado dos vilões é distorcido por alguma experiência passada que
tornou-os desequilibrados. Eliminando o objeto que desequilibra sua cognição, o
alvo torna-se uma pessoa normal e até consegue se arrepender de seus atos.
(SPOILER) Entretanto, se o alvo acabar morrendo dentro de seu próprio labirinto
cognitivo, ele tem uma quebra emocional (desligamento) e morre na vida real
também!
Segundo o site Stoodi: “A cognição é uma função psicológica ligada ao aprendizado e desenvolvimento intelectual e emocional. Assim, termos como capacidade cognitiva ou desenvolvimento cognitivo indicam a habilidade de adquirir conhecimentos e desenvolver emoções, por meio do raciocínio, percepção, linguagem, memória, entre outros”.
Já máscaras sociais, segundo Joana Simão Valério (psicologia clínica): “ Podemos entender as máscaras
sociais como os papéis ou as personagens que desempenhamos em diferentes
esferas da nossa vida e que são fundamentais para garantir a nossa adaptação
social. (...) O uso adequado de máscaras sociais possibilita experimentarmos o
mundo de uma forma saudável, sem ficarmos reféns da desajabilidade social e
perdermos a nossa identidade entre todos os outros que vão aparecendo na nossa
vida.”
Apesar do uso do termo máscara, eu prefiro o uso do termo
papel, pois máscara me dá a entender alguma atitude falsa, que não representa o
“eu” verdadeiro do ser. Já papel social é algo mais simples e traz a noção
subjetiva de uma ação honesta e positiva. O jogo, porém, usa o termo máscara no sentido negativo,
pois é algo que inibe o “eu” verdadeiro do personagem de agir. É como se fosse
uma falsidade que esconde um sentimento verdadeiro. E isso está muito bem
simbolizado durante o despertar dos personagens, quando eles arrancam suas
máscaras, mesmo ao custo de muita dor e sangue e, dessa forma, sentem-se
libertos para agir e fazer contratos com espíritos (anjos e demônios) que os
ajudarão na tarefa de combater dentro dos castelos/labirintos cognitivos dos
adversários. Assim sendo, as máscaras aqui no jogo representam algo que esconde
uma verdade e precisa ser retirada para que a verdade se revele. É algo
profundo. O curioso é que todas as máscaras retornam após serem arrancadas, ou seja, é como se o autor da série afirmasse que é impossível viver sem uma máscara. O que é um fato. É impossível viver sem desempenhar algum papel social, por isso, as máscaras sempre retornam, mesmo quando arrancadas.
Outra coisa que os psicólogos que porventura vierem a jogar
esse jogo notarão é que os defeitos cognitivos (no jogo chamam de tesouro) muitas
vezes são adquiridos na infância, que é o período em que a mente está em um
estado maior de concentração e aprendizado. Como, por exemplo, um troféu que faz uma pessoa se sentir um rei, embora tal reinado, por ser falso, transforma o rei em um monarca nu. Quem já jogou pegou essa referência que acabo de fazer. E, por esses motivos, esse jogo me
surpreendeu com um roteiro muito profundo psicologicamente falando.
Trilha sonora.
Outro ponto forte do jogo é sua trilha sonora. Cada acorde é
uma sensação incrível. Cada trecho e cada música está no seu ponto certo e todas
elas trazem uma emoção gigantesca às cenas, sejam cenas de luta, ou apenas de
aprendizado. É um espetáculo à parte que deixo um especialista falar sobre.
Aqui a música que inicia quando entramos nos
castelos/labirintos para fazer a mudança no coração de nossos alvos. Quando vi
a letra, depois de me envolver tanto com os personagens, eu posso dizer que senti
um nó na garganta. É uma letra forte, uma música forte e já se tornou uma das
minhas preferidas.
Conclusão
Persona é entretenimento puro, com uma ótima profundidade psicológica, personagens carismáticos, ação e muita emoção. Existe uma cena que você precisa jogar duas vezes. Uma vez como introdução e outra vez em sua linha cronológica adequada. Eu confesso que me emocionei muito quando precisei jogar novamente, pois a sensação tornou-se totalmente diferente. Meu universo cognitivo se expandiu e eu vi a mesma cena com outros olhos. Foi uma experiência sensacional!
Persona 5 foi lançado em 2016 no Japão, sendo que a versão Royal chegou ao ocidente em 2022.
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