Malevolent Spirits (Mononogatari)- o animê injustiçado
Mononogatari (Malevolent Spirits: Mononogatari) - Pictures - MyAnimeList.net |
A temporada
passada nos trouxe muitas séries de sucesso e inspiradoras. Uma delas, porém,
enfrentou um julgamento que considerei injusto, pois sua qualidade foi bem
acima da média que deram a ela. Até o último capítulo, a série estava com média
6.66 (número bem irônico), mas conseguiu fechar com uma média 7.14, o que é uma
nota bem razoável. Na minha opinião, poderia ter fechado próximo a 8.5 sem
dúvida. Por esse motivo, estou divulgando essa série. Divulgo-a, pois é ótima e
merece melhor reconhecimento!
Sinopse:
Hyouma é de
uma família (os Kunato) que tem como missão lidar com tsukumogamis. Quando
jovem, ele presenciou um desses seres místicos matar seus dois irmãos. Ele
apenas se salvou, pois seus irmãos impediram que esse ser o matasse. Mesmo
assim, ele ficou com duas cicatrizes: uma cicatriz em seu rosto e a outra em
sua alma. A cicatriz em sua alma o converteu em uma pessoa com grande ódio por tsukumogamis
e isso começou a atrapalhar seu trabalho, pois ele, racionalmente, decidiu que
selaria tsukumogamis antes que eles pudessem fazer mal a alguém. Seu avô, que é
o atual líder dos Kunato, não gostando dessa atitude dele, o obriga a passar um
ano na casa de Nagatsuki Botan, que vive com seis tsukumogamis como sua família.
Se acaso fosse expulso da casa dela, não poderia herdar a liderança da família
Kunato. E ele precisa dessa liderança para tentar achar o tsukumogami que matou
seus irmãos e se vingar dele.
A série:
Dividida em
dois court, a primeira parte, com 12 episódios, encerrou agora em março de 2023
e foi feita pelos estúdios da Bandai, tendo o selo editorial da Shogagukan-Shueisha.
Sendo que a Bandai fez um excelente trabalho de animação, bem como a Shogagukan
Music fez um grande trabalho com a trilha sonora da série. E o enredo, por si,
demonstra uma grande lição, com grandes personagens.
Hyouma e Botan
são os personagens principais dessa série e são as âncoras para todo o trabalho
emocional do roteiro. Acredito que, pelo tema envolver ódio, muitos podem ter
acreditado que Hyouma pudesse ser um personagem representante da figura
masculina tóxica, entretanto, ele não é. Hyouma é astuto, apesar de ser ingênuo
para certos assuntos, dedicado à sua causa, disciplinado, forte e sério ao
extremo. Tão sério que isso rende algumas piadas em relação ao olhar dele. Ele
tem um ódio profundo e, por conta de sua sinceridade, ele expõe sempre seus
sentimentos com muita franqueza. Isso causa já atrito quando ele chega na casa
da Botan e já se estranha com os tsukumogamis dela. E é essa sinceridade de
coração aberto que o faz ser gentil e protetor quando possível. Ele é uma
figura masculina completa, com muitas qualidades e defetos, porém, ele nunca
foi tóxico. Ao tentar enfrentar seu ódio, e até proteger alguns tsukumogamis,
vemos que seu esforço em melhorar é verdadeiro e sua disciplina o faz prosseguir
contra muitas adversidades. Como ele teve a infância oprimida pela morte de
seus irmãos, ele é até inocente para certos assuntos. Essa inocência é um ponto
bem explorado para momentos de alívio cômico!
Já a Botan é
outra personagem com passado sombrio. Sem dar muitos spoilers, ela tem uma “maldição”
com ela, que faz com que os tsukumogamis fiquem atraídos por ela. Ela, então, é
outra personagem com infância difícil, pois muitos a queriam, tanto humanos
como tsukumogamis, para diversas finalidades. Ele foi considerada como um
monstro e isolada. Ela sentia os olhares de ódio voltados para ela e assim ela
cresceu, apenas conseguindo superar isso em uma idade mais avançada e, também,
por conta de sua família de tsukumogamis, que a protege e sustenta.
Esse casal promove
duas visões de um mesmo assunto: Hyouma que só vê o mal em tsukumogamis e Botan
que vê o bem deles. E as duas visões entram em conflito, fazendo com que os
dois comecem a mudar. Botan percebe que nem todos os tsukumogamis são bons, bem
como Hyouma começa a perceber que nem todos são ruins. Existe aqui um ponto de
equilíbrio, em que nenhum dos lados parece ter vantagem narrativa, mas
atraem-se mutuamente a um centro em comum. Ele não é tóxico, e ela não é “sojada”
(termo usado como gíria para determinar uma pessoa sem força de vontade e muito
fraca emocionalmente, que se deixa submeter a uma agenda que não deseja). É uma
dupla com o tempero certo e que vai aprofundando um relacionamento interessante
no qual os dois começam a crescer e evoluir.
Os tsukumogamis
são outro ponto forte da série. Preciso explicar, primeiro, o que são. São
seres folclóricos da cultura japonesa. No começo de seu conceito, os japoneses
acreditavam que qualquer animal que pudesse passar dos 100 anos de vida,
transformando-se em um yokai, seria um tsukumogami. Com o tempo, isso foi
alterando. Depois acreditavam que até objetos que passassem dos cem anos
poderiam se tornar tsukumogamis e, assim, criar vida. Após mais um tempo, essa
cultura foi se alterando e começou-se a acreditar que qualquer objeto, que
fosse muito amado, independente de ter 100 anos, se tornaria um tsukumogami, ou
seja, começaria a ter vida e interagir com humanos. Uma pessoa que fosse possuída
por um deus seria uma espécie especial de tsukumogami. Na série, uma pessoa
possuída por um deus se chama moribito. E isso vai ser importante no enredo!
O tsukumogamis
da casa da Botan tem um comportamento interessante, fazendo com que Hyouma os
estranhasse de imediato, pois eles comem e bebem, sem ter a real necessidade
disso. Eles interagem e brincam com as pessoas de maneira normal, ou seja, são
pessoas amáveis e com temperamentos bem distintos. A minha preferida é a Kagami
(era um espelho), que se mostra muito franca e com atitudes bem engraçadas.
Apesar de não ser uma criança, ela às vezes age como uma, e tem um lado sapeca
que é adorável. Ela foi a primeira a notar, em primeira mão, uma tentativa de
mudança do Hyouma, quando ele a salva e a “carrega como uma princesa” (palavras
dela hehehehe). Como salientei acima, eles possuem comportamentos e
temperamentos distintos, então, nem todos os tsukumogamis tratam o Hyouma bem,
pois veem nele o ódio que ele carrega. Mesmo assim, todos eles começam a
aceitar o futuro regente da família Kunato por conta do esforço dele em mudar e
por conta do carinho que eles sentem pela Botan e, claro, pela finalidade pelo
qual eles foram criados. Essa parte da finalidade deles me fez chorar de rir.
Não esperava por aquilo!
Conclusão:
A série tem
muita profundidade, não trata de sentimentos como o ódio, de forma superficial.
As interações de todos os personagens são excelentes e eles vão ganhando
camadas de elementos psicológicos que fazem com que eles todos se tornem
tridimensionais. Tem muita comédia, apesar do tema e muita ação moral, o que
faz com que eu dê um ponto a mais para a série. Moral é algo que nunca se deve
perder de vista. A cultura dos tsukumogamis
é impressionante e eu adoro essa cultura espiritual. A série é um shonen/seinen
(voltado a um público adulto), então, ela tem ação e é bem realizada. O estúdio
entrega cenas ótimas de luta e com uma mistura excelente de música e emoção. A
canção tema, que deixo abaixo, foi até um fator de alavancagem do grupo (Arcana
Project), sendo um grande sucesso considerando outras projeções do grupo. A série
é excelente e deveria ter sido assistida por mais pessoas, por isso, eu a deixo
como indicação. O mangá já possui um volume disponível pelo Google Livros, bem como um segundo volume em pré-venda! E vejam rápido, pois a segunda parte da série estreará em julho
desse ano!