Ritos II
Passaram-se seis meses após o fim
do evento que ficou conhecido como “A corrupção dos Treemons” e tudo parecia
ter voltado à normalidade na cidade. Omyarap e Miyako continuaram se vendo
nesse meio tempo. O posto de prontidão do jovem guarda fica a apenas um
quarteirão do prédio da escola de magia da Igreja, na qual Miyako leciona. Eles
se veem com muita frequência!
Em um determinado dia, ainda pela
manhã, Miyako estava passando perto do posto de guarda e viu Omyarap e Murdok
em treinamento. Mesmo após ser considerado apto a ser um soldado, tendo sido
aprovado em seu ciclo ritualístico, Murdok ainda continua a treinar o jovem
rapaz. Diz Murdok que o treinamento de um soldado deve ser diário, pois a
gravidade do erro feito pela falta de treinamento poderá não apenas incapacitar
o guerreiro, mas, também, quem o guerreiro deseja proteger. Omyarap acredita
muito nisso e treina como nunca!
--- Omyarap! --- acena Miyako gentilmente
para o guarda.
Murdok tenta aproveitar a
oportunidade para desferir um golpe certeiro, mas Omyarap bloqueia com o escudo
o golpe. Um golpe tão forte de um martelo, que faz o corpo todo do Omyarap
tremer! O som do impacto até chega aonde
está a linda sacerdotisa asiática. Suas pernas arqueiam com a força descomunal e
ele é arrastado para trás, mas consegue um contra-golpe usando o escudo para
bloquear a visão de Murdok, enquanto lança, de um ponto cego, duas pequenas
adagas. O veterano soldado decide soltar uma das mãos do martelo e, com
bastante velocidade, agarra as adagas antes que elas o atinjam nas partes
baixas de seu corpo.
--- Há Há HÁ! --- gargalha
orgulho Murdok! --- Muito bem, meu jovem! Achei que conseguiria uma brecha com
a ajuda de uma linda sacerdotisa, mas você se fecha mesmo em seu centro quando
está em modo de combate! Parabéns também por aguentar esse golpe direto!
--- Senhor, obrigado, senhor! ---
diz Omyarap enquanto se coloca em posição de sentido e diz desapontado. ---
Achei que meu golpe seria melhor!
--- Foi um bom golpe, sim, meu
rapaz! Você aproveitou a nossa diferença de estatura e que seu centro de
gravidade estava baixo por conta do meu golpe, para tentar me atacar na região
mais próxima e mais vulnerável, ou seja, as pernas. Foi um raciocínio
interessante. Até usou o escudo para me distrair e bloquear a visão! Só que eu
sou experiente. Não foi a primeira vez que alguém menor tentou me atacar por
baixo, tentando levar em consideração meu tamanho, então, eu já estou atento a
esse tipo de problema.
--- Obrigado, senhor! Levarei
isso em consideração! --- diz o jovem se curvando!
--- Vocês dois querem se matar? É
isso? --- diz a sacerdotisa chegando perto deles!
--- Se o treino não levar em
consideração o perigo de morte, não é um treino bom o suficiente! --- diz o
veterano.
--- Eu concordo com o mestre
Murdok! --- diz Omyarap.
A sacerdotisa apenas olha chocada
para os dois. E, após um pequeno intervalo, ela rompe o silêncio.
--- Ei, Omyarap, posso fazer uma
pergunta? Como se pronuncia corretamente o seu nome? Omyarap, ou Omayrap? Queria
saber qual a forma culta e qual a forma popular.
--- Para mim, ambas estão boas! Minha
mãe me deu o nome pelo idioma antigo de sua tribo e, nesse idioma, o ideograma
do meu nome tem duas fonéticas corretas, sendo fluido: mya e may. Nunca pensei
muito no assunto, mas acho que tanto faz! --- responde o soldado. “Se até o
autor não sabe, como eu vou saber?” pensa o jovem rapaz!
--- Que incrível! Não poderia
esperar menos de uma jovem pintora talentosa como é sua mãe. A senhora Mugi é incrível! --- diz Miyako com
um brilho nos olhos que faz com que Omyarap fique se perguntando o que há de
errado com ela. Murdok sorri discretamente ao ver o jovem casal interagindo.
--- Muito bem, soldado! Hoje
ficará sozinho com a Ming na estação de guarda. Fui convocado para uma reunião
na cidade vizinha e devo partir imediatamente. Se precisar de apoio, Perseu,
Bulls e Trock estão na estação mais próxima. Eles se revezarão para te dar
apoio! --- diz Murdok se despedindo.
--- Sim, senhor! Obrigado,
senhor! --- agradece Omyarap!
--- Quem é a Ming, Omayrap? ---
pergunta a sacerdotisa, com um sorriso estranho no rosto.
“Ela trocou a fonética do meu
nome?”--- indaga Omyarap para si mesmo, enquanto sente um calafrio passar pela
sua espinha, como se a sua vida dependesse da resposta certa a essa pergunta. Murdok
ri e pensa: “Um pouco de ciúmes para apimentar essa relação!”. A pressão
espiritual que a sacerdotisa está emitindo, nesse momento, faria até o Lorde
Demônio se impressionar!
Murdok se afasta dos dois,
enquanto eles conversam e Omyarap tenta acalmar a ciumenta sacerdotisa gênio. Murdok
começa a recordar que após o fim do evento da corrupção dos Treemons, a
sacerdotisa e Omyarap começaram a se ver com mais frequência, pois ela tinha
ficado interessada nos efeitos da corrupção em soldados e estava monitorando
tanto o jovem guardião como sua mãe. Segundo ela, era para evitar que a
corrupção pudesse afetar a vida cotidiana de ambos. Esse monitoramento tornou-se
amizade em um mês e namoro em apenas 4 meses. A sacerdotisa se impressionou com
a sensibilidade de Mugi, a jovem mãe do soldado, e da disciplina e rigor com
que Omyarap lidava até mesmo com questões de rotina, mostrando-se sempre muito
sério. Essa admiração logo se tornou amor. Omyarap também mostrou interesse em Miyako de
forma quase instantânea, pois a beleza da jovem sacerdotisa é digna dos mais
lindos cânticos românticos.
Quatro meses atrás.
--- Senhora Mugi, estou quase
certa que os efeitos da corrupção já foram todos eliminados. Nosso
monitoramento se encerra hoje. --- diz Miyako com tristeza no rosto.
--- Ora, ora! Pode me chamar
apenas de Mugi! --- diz a jovem pintora.
--- Seria desrespeitoso de minha
parte, senhora! --- rebate Miyako com respeito.
--- O monitoramento terminou,
então, a convido para uma festinha de fim de serviço. Gostaria de comemorar com
você que tanto nos ajudou nesse momento. --- afirma Mugi fazendo com a mão um
“V de vitória”.
--- Obrigado, senhora!... --- agradece
Miyako e, antes que concluísse a frase, é interrompida por uma Mugi
autoritária.
--- Se recusar a festinha, vou
ficar brava! --- diz Mugi.
--- Ehr... então eu agradeço
humildemente! --- concorda Miyako e antes que pudesse terminar a frase
novamente, Mugi autoritária se faz presente novamente.
--- Se somos amigas ao ponto de
fazermos festinha, então, não precisa me chamar de senhora! --- conclui Mugi
fazendo “V de vitória” com as duas mãos dessa vez!
--- Ehr..., sim senh.... digo,
está bem Mu-Mugi! --- diz Miyako vermelha de vergonha. Ela pensa: “Droga, cai
na armadilha!”
Mugi se alegra e faz uma linda
dancinha em comemoração.
--- Amanhã nos veremos, Miyazinha,
para um festão! --- diz Mugi com alegria quase infantil!
--- Amanhã, já? --- pergunta uma
sacerdotisa gênio assustada.
“Minha nora é tão bonitinha!”,
pensa a artista!
O dia passa de forma normal.
Miyako retorna para a igreja e, durante seu trajeto, percebe Omyarap no posto
de segurança ajudando uma senhora a se localizar. Ela, então, para e grita acenando
gentilmente:
--- Omyarap!
O guardião a ouve e responde com
outro aceno. Os dois ficam encabulados por um momento, como se esse aceno fosse
a coisa mais indecente do mundo. Depois de uma breve pausa, ela volta a andar. A
igreja é uma junção de quatro edifícios e é um dos maiores conglomerados da
cidade. A igreja em si, onde
congregam-se para louvar a Deus, um prédio educacional, um prédio que serve
para obras assistenciais, e outro que é formado para pesquisas em magia. O
prédio da pesquisa mágica, apesar da proximidade, é isolado dos demais, não tendo
entradas em comum com nenhum deles. É como se fosse uma sombra dos prédios
vizinhos. Miyako passa pela igreja e faz uma breve oração. A simples oração
dela é capaz de fazer fadas e anjos descerem para dançar. Em seguida, ela passa
no prédio educacional, no qual deposita o relatório final da visita à família
de Mugi. Em seguida, ela vai para uma sala de aula, na qual começa a lecionar a
estrutura mágica para alunos destinados a serem sacerdotes. “Ela é um gênio!”,
“Nessa idade e já está lecionando!”, “Oh, nosso anjo asiático!” são pensamentos
de alguns dos alunos, enquanto Miyako descreve a habilidade básica da magia:
--- A magia no nosso mundo vem de
duas fontes, como todos já devem saber: Deus e Invasor. Conta o texto sagrado
que enquanto Deus semeava a terra e criava a vida, outra divindade, com ciúmes
do trabalho realizado, resolveu interferir. Com muita astúcia, ele conseguiu
plantar sementes ruins junto com as sementes boas de Deus. Assim esse mundo
nasceu. Ao ver que suas sementes estavam junto de sementes ruins, Deus optou
por deixar que todas crescessem juntas. Ele tinha fé de que suas sementes
poderiam trazer luz para as sementes ruins. E, no final, quando tudo fosse
colhido, ele separaria o bom trabalho do mau trabalho.
Miyako faz uma breve pausa para
beber um pouco de água e continua:
--- Isso é a palavra no
pergaminho sagrado. Nos livros de história, sabemos que houve muita interação
entre os dois tipos de semente, fazendo com que, hoje, nós, humanos, que
transitam entre o bem e o mal, tenhamos aptidão para ambas as bençãos dos dois
deuses. Temos capacidade para conjurar os dois tipos de magia.
--- Professora, mas isso não iria
contra o aprendizado de que existe o mal absoluto? --- pergunta um aluno.
--- De maneira nenhuma! Os dois
tipos de magia não tem referência direta com o tipo de coração que há. A magia
é como uma arma. Pode ser usada tanto para o bem, quanto para o mal. Como
existe o mal absoluto, que semeou sementes más, existe o coração mau que a tudo
corrompe. As sementes que ele germinou, bem como as sementes que ele conseguiu
corromper, são exemplos do mal absoluto. Enquanto corrompidas, essas sementes
são o mal absoluto. Assim como existe o bem absoluto, nosso Deus, que permitiu
em amor que todas as sementes germinassem, existe o mal absoluto que tudo
queria destruir. O Lorde Demônio, por exemplo, é o servo máximo do mal absoluto.
É um ser que não se pode purificar. Lembrando que nós somos uma raça que
transita, enquanto existem raças fixas do bem e do mal. Tais raças podem ser
controladas e corrompidas e cabe a nós evitarmos isso, ou nosso mundo será
destruído.
--- Então, professora, a falha do
ritual de purificação é sinal de que
nosso Deus é mais fraco? --- pergunta o mesmo aluno.
--- Também não existe relação! O
ato de purificação não é um ato de imposição, mas é um convite para que aquela
semente torne-se novamente pura, ou boa. Assim como nosso Deus não obrigou as
sementes más a se tornarem boas, o ritual de purificação não é uma imposição,
mas um convite, para que o mau se arrependa. Nesse sentido, vemos como nosso
deus preza pelo livre arbítrio. Logo, o ritual não falha. É a semente dentro da
pessoa que falha em retornar ao bem absoluto, ao aceitar o convite. Muitas
vezes essa falha ocorre porque a semente se prende demais a um arrependimento,
ou a uma tentação. Quando você recebe um convite para uma festa, cabe a você
confirmar se vai ou não. É a mesma coisa! --- Miyako, então, se lembra do
convite da Mugi e ri.
--- Professora, eu estou confusa.
Poderia explicar como o ritual interfere na corrupção e porque não existe cura para a corrupção da
alma? --- pergunta uma aluna.
--- Precisamos, primeiro, definir
o que é a alma. Alma é uma palavra que significa nossa psiquê, sendo
significado de alma também: “aquilo que dá vida”, ou seja, é nossa semente por
assim falar. Existem dois níveis de corrupção. Uma no nível apenas do coração
humano, que pode ser controlada pelo convite, o ritual de purificação. A outra
é a corrupção já no cerne da semente. Quando a própria semente se corrompe, o
convite é ouvido, mas rejeitado de imediato. Nesse momento, é o mal absoluto
que toma conta da criatura através de sua alma. Presenciei o caso dos Treemons
pessoalmente. As pequenas criaturas tiveram uma corrupção tão poderosa que
entregaram sua alma, ou seja, sua semente para o mal absoluto. Aquilo me doeu
na minha própria alma. Eu não pude fazer nada.
--- Como podemos dizer que existe
um bem absoluto, se raças boas podem ser corrompidas e nunca mais retornarem ao
bem? O bem absoluto, se corrompido, mostra que não é absoluto! --- pergunta o
mesmo aluno das primeiras perguntas.
--- Posso responder com apenas
uma questão filosófica. O nosso deus é amor e é o bem absoluto ao qual devemos
seguir. A própria existência de um deus absoluto e bom, que não se corrompe, já
define, por si só, a existência do bem absoluto. Cabe a nós tentarmos nos
aperfeiçoar para chegarmos ao ponto de sermos como ele que nos criou e, então,
sermos o próprio bem absoluto nessa terra. --- Miyako faz uma pausa para beber
mais um pouco de água. --- Talvez, e isso é apenas a minha própria esperança,
que, um dia, alguém consiga ser o bem absoluto nessa terra e conseguir
purificar até mesmo o Lorde Demônio. Lembrem-se, somos sementes. Qual árvore
seremos só depende do nosso crescimento e das nossas escolhas. O bem absoluto
nos convida, o mal absoluto nos invade!
Assim sendo, com o soar do sino,
a aula termina com aplausos de todos. Miyako se curva em agradecimento e começa
a recolher suas coisas de sua mesa. Nesse momento, o aluno inquisidor se aproxima.
Sua frágil aparência delicada o faz parecer doente e sua presença é bem fraca
ao ponto de quase ninguém o notar. Seus olhos são cobertos pela franja quando
sua cabeça está baixa e ele quase sempre anda de cabeça baixa.
--- Professora Miyako, eu tenho
algumas dúvidas ainda. Sei que seu tempo está esgotado, então, eu pergunto se
posso encontrar com a senhora no templo no fim de tarde? --- pergunta o jovem
rapaz, que, também, é mais alto que a professora.
--- Hummm... --- fica pensativa
por um instante, mas explicar coisas é uma fraqueza dela, então, ela cede! ---
Claro! Tudo pelo bem dos meus alunos. Só não precisa me chamar de senhora. Eu
ainda não sou casada!
O aluno agradece e se retira.
Miyako pensa: “Senhora! Agora sei como essa palavra doeu no coração da
senhor... digo, da Mugi”. Uma imagem mental da Mugi fazendo um sinal de vitória
aparece na cabeça da Miyako. Como havia algum tempo ainda, Miyako se dirige até
o prédio da assistência social da Igreja, onde ela começa a ajudar a cozinhar
sopa para os desabrigados e para os órfãos que a igreja cuida. Existe uma
escala de trabalho bem definida, que é seguida por todos, não importando sua
posição hierárquica dentro da Igreja, portanto, vemos sacerdotisas cozinhando
e, por exemplo, sacerdotes limpando banheiros. É um trabalho que também
exercita a humildade de seus corações, pois a verdadeira função deles é a
servidão.
Após cozinhar, ela pega um pouco
da sopa, do pão e do queijo e embrulha em pequenos pacotes para os levar
consigo. E, como um foguetinho, ela corre em direção ao posto de segurança em
que Omyarap está de serviço. Ao chegar lá ela percebe um informativo no mural:
“Os generais da cidade vizinha foram corrompidos e entregaram a segurança de
seu povo ao demônio. Estão à mercê da vontade de pessoas sem escrúpulos e que
conseguem dominar tanto a justiça, quanto a segurança pública. Existe um pedido
da guilda para intervir!”. Miyako percebe que o caminho para a perfeição da
humanidade ainda está ainda em seus passos iniciais e se entristece. Sua
tristeza se encerra quando ela ouve uma voz conhecida a chamando.
--- Miyako, o que te traz aqui?
--- pergunta um sorridente Omyarap a recebendo!
--- Omyarap, eu estava aqui por
perto e decidi trazer-lhe uma refeição! Trouxe para os outros também! --- diz a
jovem espiritualista, ficando vermelha. Ao longo do tempo em que ela acompanhou
a família do soldado, ela começou a ver valor no rapaz e o valor, aos poucos,
tornou-se em interesse e, por fim, amor. Ela queria muito se declarar. A igreja
que ela segue permite o casamento, pois é uma forma de espalhar novas sementes
de Deus, entretanto, se ela aceitar uma relação com outra pessoa, ela precisa
comunicar a igreja, pois ela deverá trocar de classe. De sacerdotisa para maga!
A diferença entre uma maga e uma sacerdotisa não está no nível, ou tipo de
magia, mas na intenção, ou não, de amar uma outra pessoa
--- Obrigado! Pena que os outros
saíram em patrulha! --- Omyarap pega os pacotes com comida e gesticula
agradecendo. --- Eu comunico para eles, assim que eles voltarem da patrulha.
Vão ficar muito felizes! E eu ainda nem tive o prazer de apresentar você a
eles... --- Omyarap para um instante e fica vermelho, afinal, pensa ele: “Como
assim apresentar? Antes disso, eu preciso é me declarar!”, sim, Omyarap se
apaixonou primeiro por ela.
--- Hi Hi Hi—ri de forma discreta
a linda asiática. Ela pensa: “Ele vai se declarar! Não tenho dúvidas! Eu
conheço esse olhar!”.
--- Miyako, eu queria te dizer
uma coisa, por isso, peço que se encontre comigo no muro lateral da cidade! Pode
ser hoje à noite? --- pergunta o rapaz.
--- Claro! Eu vou precisar
encontrar um aluno, mas assim que terminar, estarei livre! Irei com certeza!
--- diz a jovem segurando um grito de felicidade e tentando parecer a mais
séria possível. Omyarap apenas sorri de volta!
--- Então, obrigado pela comida!
--- diz ele abrindo seu pacote e encontrando uma bela sopa de tomate,
acompanhada de pão e queijo. Ainda está quentinha. Ele pensa: “Ah, que delícia!
Estou sentindo apenas o perfume dela, então, foi ela que fez tanto o pão, quanto
a sopa. Conhecendo-a, ela não permitiu que ninguém mais tocasse na comida,
enquanto ela embrulhava os pacotes, por isso, o cheiro de outras pessoas está
bem fraco! Que bom! Comer uma comidinha feita por ela! Que felicidade”!
Miyako acha bonitinho que Omyarap
esteja perdido em pensamentos, com a cara de quem alcançou a felicidade plena! E
ela acha triste ter que tirá-lo de seu campo de felicidade, mas o interrompe:
--- Omyarap, eu devo ir encontrar
agora meu aluno. Assim que terminar, eu vou para o muro, no local combinado!
--- ela se despede e, como um foguetinho ligeiro, ela desaparece em direção à
igreja. Omyarap acha bonitinho o jeito ligeiro com o qual ela corre. Para os
apaixonados, qualquer coisa que um faça, o outro vai achar bonitinho!
Enquanto Miyako estava voltando,
o jovem estudante já estava no saguão, na nave principal da igreja, rezando,
quando é interrompido por uma sensação terrível. Ele não está sozinho na
igreja, tendo a companhia de uma sacerdotisa mais velha, por volta de seus 50
anos. Apesar da idade, ela manteve-se bela, com um corpo magro e uma pele
macia. Ela também sente uma presença e diz:
--- Meu rapaz, se afaste daqui!
Antes que ela terminasse qualquer
outra fala, ela é puxada para trás por um laço envolto em seu pescoço. Ao
tentar recitar um encanto, uma maçã é colocada em sua boca, servindo de
mordaça. Ela tenta morder a fruta, mas o suco expelido pela fruta, ao ser
engolido, faz com que ela fique tonta. É como se fosse um narcótico que está
fazendo-a dormir. O jovem rapaz tenta correr para liberá-la e é só o que ela vê
antes de ficar totalmente imobilizada pelo veneno!
--- Quem é você? --- grita o
jovem estudante, enquanto gesticula uma magia e cria um pequeno escudo. Mesmo com medo, ele não se afasta. Ele teme
que sua fuga faça com que esse ser, ainda oculto, se concentre unicamente na
sacerdotisa, então, mesmo correndo risco de vida, ele permanece em pé.
--- Diga-me, sacerdotisa, qual o
nome desse rapaz? --- diz o vulto, enquanto seus laços e cordas começam a
imobilizar a sacerdotisa veterana. Os laços se movem magicamente prendendo-a
primeiro pelos cotovelos por trás, depois deslizam para os punhos, amarrando-a.
Para evitar que a corda, ela mesma, escorregue acidentalmente pelas roupas, ela
(a corda) começa a se envolver ao redor dos seios da mulher, para criar um
ponto fixo. E, a deslizar pela barriga, essas cordas assemelham-se, em sua
movimentação, a serpentes. Essas “serpentes”, para chegar até as pernas, prendem-se
aos quadris primeiro, depois às coxas e, por fim, unem-se aos tornozelos dela,
retirando também os sapatos sacerdotais. Assim, expondo os pés grandes, e
esguios, envoltos em meias pretas. Por fim, a sacerdotisa fica totalmente
amarrada. Seus pés não conseguem alcançar o chão, sendo que o ser a mantêm no
alto, longe do chão que seus pés tentam alcançar em vão, se espichando. Seus
dedões apontados para o chão dão a imagem de que ela, sem dúvida, está à mercê
de seu algoz. É como se seus pés estivessem pedindo ajuda! Um sinal de socorro
inconsciente!
--- Pertos! --- diz a sacerdotisa
sem opção. O veneno da maçã a faz embriagada e ela não consegue se revoltar
contra a ordem dada. Em seguida, o vulto coloca outra maçã na boca da
sacerdotisa, a fazendo gemer de medo.
--- Solte-a! --- grita Petros!
--- Sabe por que perguntei seu
nome, Pertos? --- O vulto começa a falar. --- Assim eu consigo possuir a
pessoa. --- a próxima fala já é dita pelo vulto já possuindo Pertos. --- Usando
o seu nome, eu consigo me esconder dentro de você e te controlar por completo.
Pertos, agora possuído, começa a
rir de forma maquiavélica.
--- Daqui não sairá, monstro! ---
diz Miyako chegando ao templo e erguendo seu cajado! – Devolva meu aprendiz!
--- Seu nome é Miyako! --- diz rapidamente
o Pertos possuído, antes que a jovem sacerdotisa possa encantar algum cântico! Miyako
sente uma onda forte de energia negativa a controlá-la. Usando sua visão
espiritual, que é uma manifestação de uma benção divina, ela se vê totalmente
acorrentada por cadeias de energia escura. Essas cadeias começam a agrilhoá-la,
até que ela não consiga se mover livremente. Em seguida, ela vê um vulto atrás
dela, como se fosse uma “Iron Maiden”, que a engole por completo, deixando-a na
escuridão.
--- Que sorte a minha que Pertos e você se
conhecem, assim pude ver nas memórias dele o seu nome, professora! --- diz o
demônio! --- Agora, conheço todos os seus conhecidos. Logo a cidade será minha,
nome por nome!
--- Aaaaahhhhh, que delícia! Ter
três sementes sob meu controle! --- diz o demônio usando Pertos, em êxtase! ---
Qual dessas sementes eu irei corromper primeiro?
--- Espera! Você vai nos
corromper? --- diz o espírito de Pertos acorrentado do mesmo jeito que Miyako
foi! Ele está em um lugar escuro, como se sua vida tivesse sido tomada. Ele
sente o quão poderoso é esse espírito!
--- Jovem Pertos, sei que você
tem dúvidas quanto ao poder de seu deus. Sei que não considera seu deus um
poder absoluto, pois o bem pode ser corrompido. Eu vejo tudo isso em sua alma.
E você está certo! Suas dúvidas são reais! E isso é uma delícia para mim! ---
diz o demônio enquanto sorri de maneira prazerosa.
--- Não! Mesmo que eu tenha
dúvidas, isso não relativiza o poder de nosso Deus, pois o poder dele independe
de nossa crença! Você está errado! --- diz um Pertos assustado, mas ainda
enfrentando essa escuridão dentro de si!
--- Não importa, caro Pertos! O
que eu quero é justamente a dúvida e unicamente a ela. Não me importa, pois é a
dúvida que me alimenta. É o medo que me alimenta! --- diz o espírito
movimentando o corpo de Pertos para perto da senhora sacerdotisa. Usando o
corpo dele, o demônio começa a massagear o corpo indefeso da mulher de forma
desrespeitosa. --- Ora, ora! Parece que esse corpo aqui gosta disso! --- diz o
espírito ao notar uma movimentação natural do corpo humano do Pertos e
gargalha!
--- Vamos a um pequeno
sacrifício! --- diz o demônio pegando uma adaga e se dirigindo para perfurar o
coração da sacerdotisa amarrada. Ela nada consegue fazer para se proteger e nem
mesmo consegue gritar. Ela apenas geme e esperneia em vão, sem conseguir se
soltar.
--- Não me humilha, demônio! ---
grita Pertos! --- Sai de perto dela, agora!! --- o comando de Pertos parece ter
tido efeito! Por alguns segundos, a
raiva e determinação de Pertos conseguem fazer com que seu corpo solte a faca e
se afaste da sacerdotisa amarrada.
--- Opa! Que perigo! Quase perdi
o controle! --- diz o demônio! --- Sabe Pertos, se seu deus é tão poderoso, por
que estou agindo livremente na casa dele? Ele poderia me deter se quisesse! Ele
não pode!
As dúvidas de Pertos se
manifestam novamente e esse período de dúvidas faz com que o demônio pudesse
comandar novamente o corpo de Pertos. O demônio sorri e depois gargalha!
--- Eu só quero semear a dúvida!
Para mim isso basta! Para mim, isso é poder! E estar na casa d’Ele, fazendo
isso com três sementes d’Ele já me dá muito poder! --- gargalha o demônio na
casa de Deus!
--- Já basta! --- diz uma voz
feminina ecoando no coração de todos na nave principal. --- Você está agindo
aqui, pois foi convidado a estar aqui por Ele. Ele nos indicou essa luta, pois
nós somos capazes de te enfrentar! Ele sabe que podemos te derrotar, ser
imundo! Você não é nada mais do que um convidado a estar aqui e todo o
convidado indesejado é sempre foçado a se retirar quando assim for preciso!
Da Iron Maiden que continha a
Miyako surgem rachaduras e, em seguida, após o som de diversos trovões, como que
relâmpagos estivessem batendo dentro das paredes da “Iron Maiden”, a prisão é
rompida com uma forte luz dourada!
--- Lux! – Com um simples encanto,
Miyako faz transbordar por toda a nave principal da igreja, uma luz tão branca
que a tudo envolve. Essa luz expulsa de todos as trevas demoníacas do controle.
Pertos e Miyako estão livres!
“Precisei de um encanto com recitação
mais rápida que o meu nome, para não ter risco dele me parar novamente. Não era
adequado, mas era o mais rápido! Impedir que ele fale meu nome! Preciso concentrar e achar outro encanto mais
rápido ainda para completar o trabalho.”, pensa Miyako.
O demônio, que parece ter voltado
a ser um vulto sem forma muito definida, ainda está confuso. Pertos percebe e
lança outro encanto de “Lux”. A diferença da força do encanto é assustadora. É
como comparar a luz do sol a uma luz de uma vela, mas até mesmo uma vela pode
queimar e machucar. Assim, o encanto de Pertos consegue imobilizar o espírito!
--- Professora, vou manter ele
imobilizado! --- grita Pertos!
Antes que Miyako possa fazer
algo, as cordas que imobilizaram a primeira sacerdotisa se lançam em direção da
jovem asiática, formando uma bola de cordas do tamanho de uma bala de canhão. “Não
estamos enfrentando um demônio, mas dois!”, conclui assustada a sacerdotisa, “As
cordas não eram uma manifestação mística do primeiro demônio, mas um demônio
parasita que acompanha o primeiro e se alimenta, como o nome sugere, dos restos
deixados pelo primeiro demônio”.
“Não vou conseguir desviar a
tempo!”, diz a sacerdotisa, temendo pelo que pode vir a acontecer se ela
falhar. Ela teme pela fé de Pertos, pelas suas vidas e pelo seu Omyarap!
--- Professora! --- grita Pertos
enquanto a bola de cordas se prende nas costas de Miyako, que tentou se virar
por instinto, para que a massa de cordas não batesse em seu peito. A bola de
cordas começa a se movimentar, já prendendo os braços da Miyako pela frente,
juntando seus punhos cerrados. Ela observa com um olhar assustado, mas continua
a cantar seu encanto. O demônio percebe a distração de Pertos e prepara uma
lâmina de energia escura, enquanto ele começa a tentar falar o nome dos dois
novamente, para tentar imobilizá-los. É questão de velocidade, nesse momento.
Vencerá quem conseguir recitar
mais rápido. Vencerá o mais rápido! Nesse momento, o demônio de corda começa a
produzir uma maçã para evitar que Miyako continue recitando. A fruta começa a
se aproximar de seus lábios, enquanto a lâmina escura se aproxima do peito de
Pertos. O jovem acadêmico já percebe a lâmina, mas não possui experiência, ou
velocidade, para esquivar do golpe. A única coisa que ele consegue fazer é
olhar para o vitral da igreja que reproduz o semblante calmo de seu querido
deus e ele pensa: “Eu confio em você!”.
Nesse momento de que todos se
movem como se estivessem em câmera lenta, surge uma luz prateada extremamente
rápida. Essa luz corta a corda que ia em direção aos lábios de Miyako, enquanto
uma mão forte alcança o demônio nas costas da jovem sacerdotisa e o esmaga sem
piedade. Com o demônio parasita morto, as cordas que prendem a senhora
sacerdotisa se enfraquecem e os laços são desfeitos. O demônio em forma de
vulto se surpreende com a emissão de duas energias contra ele e interrompe sua
investida contra Pertos.
A primeira energia a chegar a ele
é a energia assassina emitida pelo salvador de Miyako, que, com o olhar, emite
sua sede de sangue. É uma energia que o faz tremer! A segunda energia ele sente
após ouvir:
--- spiritus caro facti sunt! ---
é o encanto da jovem sacerdotisa. O demônio chega a recuar e espera o efeito do
encanto, que ele não conhece. A sacerdotisa, então, consegue um tempo para
olhar seu salvador. Omyarap estava com ela! E ele estava furioso!
--- Amor, eu o transformei em
carne com meu encanto. Agora ele pode ser despachado para os portões do inferno
usando uma lâmina qualquer. Aja rápido! --- grita Miyako! Omyarap nada diz, mas
age com grande velocidade. Da entrada da igreja até o altar tem mais de 25
metros. É a distância entre Omyarap e o demônio refeito em carne. São 25 metros
que se transformam em 25 centímetros em apenas dois segundos. Essa é a
velocidade do guerreiro em modo de combate. A lâmina de Omyarap já está no
pescoço do demônio que ainda tenta:
--- Omyarap é seu nome! Pare! ---
tenta o demônio usar seu poder. Entretanto, a lâmina de Omyarap não para e
corta a cabeça do demônio com grande velocidade. Não satisfeito, Omyarap ainda
lança outros 20 ataques cortantes fazendo em pedaços o corpo do demônio. O
demônio não entende porque seu poder não funcionou com o jovem guerreiro, que
não pretende explicar ao mal o porquê de sua ruína, então, ele silencia. Foi
nesse momento que Miyako percebeu a fluidez da fonética do nome do Omyarap e
que essa fluidez do nome era a fraqueza do poder do demônio, pois ele era
incapaz de dizer as duas pronúncias do nome dele ao mesmo tempo. Miyako pensa:
“Mugi, você é genial!”.
Miyako corre em direção ao
Omyarap, enquanto Pertos corre em direção da senhora sacerdotisa que estava
ainda meio tonta por conta do veneno imobilizante que a fez ficar um pouco
bêbada. Pertos olha para o vitral
novamente e sorri em agradecimento. A velha sacerdotisa o abraça:
--- Meu salvador! Meu lindo
salvador! --- diz ela. Ela é uma daquelas bêbadas que ficam manhosas quando
bebem. Pertos assim descobriu mais uma coisa sobre a madre-sacerdotisa. Que ela
era uma mulher manhosa que adora abraçar e beijar, quando está liberta pelo
efeito de uma bebida.
Quando Miyako chega perto de
Omyarap, ele sorri de orelha a orelha e pergunta encabulado:
--- Amor?
Dessa vez, Miyako é que fica
encabulada e interrompe a sua corrida em direção a ele. Juntando os dedinhos em
posição de vergonha, olhando para o lado e com a voz bem baixinha, ela explica:
--- É que o demônio conseguia
controlar as pessoas se soubesse o nome delas, então, eu não podia falar seu
nome para ele. --- ela faz uma pausa e percebe o próprio erro. --- Se bem que
ele possuía minhas memórias, então, foi meio sem sentido. No final, ele até
falou mesmo o seu nome! Desculpa!
Omyarap chega perto dela e coloca
sua mão na cabeça dela, enquanto limpa a outra mão, ainda suja com o sangue do
demônio-parasita, atrás de seu corpo. Eles se olham e o olhar dele é o mais
sorridente de todos.
--- Você demonstrou seu
sentimento por mim. E eu fiquei muito feliz com isso! Quero te dizer, aqui e
agora, que você também é meu amor! --- ele faz uma pausa, respira fundo e olha
novamente para Miyako. --- Por isso eu quero te pedir em namoro. Aceita namorar
comigo?
Os olhos dele são bem
determinados e sua voz não tremulou em nenhum momento. Com isso, Miyako sabe
que o sentimento é verdadeiro. Não foi uma confissão em um jardim de flores,
como seria perto do muro da cidade, no local escolhido, que era cheio de lindas
flores, mas foi dentro da nave sagrada da igreja, aos olhos da imagem do Deus
absoluto, ou seja, para Miyako foi o lugar mais favorável, pois foi quase um
pedido de casamento! E ela sorri de volta, com o coração mais alegre possível.
Um coração tão alegre, que chega a atrair fadas e pequenos anjos ao seu redor.
--- Sim, eu aceito! --- diz ela,
enquanto fadas e anjos celebram. Omyarap sorri de volta e ambos se abraçam,
ignorando os efeitos da morte do demônio atrás dele. Feito carne, o demônio tem
seu espírito acorrentado e é levado à força para o inferno, pois essa é a regra
aos que morrem fazendo o mal. Ao ser feito de carne, e ao ser morto, ele foi
preso a essa regra imutável e seu exorcismo assim foi realizado.
Após um breve momento de alegria,
houve uma pausa no qual os quatro começam a se olhar, ainda dentro da igreja. A
madre-sacerdotisa, ainda meio grogue, se apoia no ombro de Pertos, Miyako se
abraça em Omyarap.
--- Quem vai limpar o sangue do
demônio da nave principal da igreja? --- pergunta Miyako com cara de nojo!
--- Pode deixar, querida, que eu
peço para o grupo de limpeza fazer esse serviço. Inclusive a purificação do
templo e a nossa também! --- diz a madre-sacerdotisa. --- Aaaaahh, que dor de
cabeçaaaaa!
--- Pertos, você entendeu o que
aconteceu aqui hoje? --- pergunta Miyako em sua função de educadora.
--- Sim, professora! Entendi que o mal se alimenta de nossas
dúvidas e que, apesar de eu achar questionável, eu entendo a liberdade que
nosso Deus dá, inclusive, para que demônios possam entrar na igreja. Ele nada
restringe, pois sabe que disso resultará um ponto de equilíbrio que nos fará
crescer. Sei bem disso, pois foi enfrentando minhas trevas que vi a luz. Se ele
não permitisse esse combate, eu não teria visto minha verdadeira convicção
n’Ele. E, acredito, isso me deixou mais próximo d’Ele. --- conclui Pertos.
--- A presença de um demônio na
igreja também foi um erro meu. Perdoem-me. Eu não fiz o ritual vespertino de
limpeza do ambiente. Não esperava que o demônio estivesse às portas, por isso,
achei que não faria mal dar uma pulada no ritual da nave. --- se desculpa a
madre ainda sendo amparada por Pertos.
--- Poxa, madre-santa! A senhora
não pode mais errar assim. Se estiver cansada, delegue a outro! --- reclama a
sacerdotisa.
--- Desculpe! --- diz a madre!
Após um tempo de conversa, os
casais se despedem. Omyarap leva Miyako para comer algo junto ao lindo campo
florido à noite. Isso depois de lavar as mãos e comunicar, através de uma
mágica de comunicação que usa dois espelhos como receptores e transmissores, a
Mugi que ele se atrasaria para chegar em casa. Mugi fica sabendo, também, no
início de namoro do filho e dá uma dancinha de felicidade muito fofa. Coisa que
deixa Omyarap e Miyako sem jeito de assistir!
Pertos acompanha a madre até seu
aposento e a madre diz a ele:
--- No momento em que eu seria um
sacrifício, você lutou contra o demônio para evitar a minha morte! Eu te
agradeço! Tenho uma dívida para contigo!
--- diz ela se curvando em agradecimento sincero ao jovem estudante
universitário/acadêmico.
--- Eu não fiz mais do que a
minha obrigação como servo, de evitar que o mal se propagasse. --- diz o
estudante sem jeito.
--- Vi também que você se
encantou, digamos dessa forma, pelo corpo dessa velha senhora! --- ela
complementa sorrindo.
--- Aaaahaaaaahaa! --- diz Pertos
sem saber o que dizer e já suando frio!
--- Não fique encabulado. Hoje,
quero te dizer que sou sua serva de corpo e alma. Pode fazer o que quiser
comigo, uma vez que minha vida agora te pertence e não mais a mim. --- ela para
e senta-se em sua cama. --- Apesar de ser a madre-sacerdotisa, ainda sou mulher
e nunca ninguém resistiu ao demônio por mim.
--- Eh?!
--- Não sabe como isso me
encantou! Eu estava indefesa, e você resistiu ao demônio por mim. Achei isso
incrível! Então, quando eu retirar a minha batina, minhas roupas sacerdotais,
pode me considerar apenas uma mulher, sua serva! Não serei mais uma madre. No
momento em que estiver sem os trajes do sacerdócio, serei apenas o que você
quiser que eu seja! --- diz ela com um olhar penetrante, sensual e provocador!
--- Pelo amor de Deus, não fala
essas coisas para mim enquanto está vestida como a madre! Deus, me perdoa! O
que eu fizzz!!!! ---- diz o jovem universitário entrando em pânico!
A madre sorri, se levanta e diz:
--- Então está bem! Irei até o
banheiro tirar minhas vestes. Se por um acaso ainda estiver aqui, podemos
continuar a conversar. Esse é o ponto no qual eu desejo que seja livre para me
responder. Você tem toda a liberdade do mundo para decidir o que fazer. Como
dois adultos que somos.
O Pertos se perde em memórias
nesse momento em que ele fica sozinho no quarto. Ele se auto-examina e lembra
da primeira vez que viu a madre e como a achou digna. Ao mesmo tempo, suas
lembranças vão alterando de momentos em que ele a achava uma madre sensacional,
a momentos em que ele havia se pego a admirando como mulher. Como em uma excursão
da faculdade de magia na qual, após expor uma aula incrível sobre rituais
antigos de invocação de familiares, ele a pegou tirando seus sapatos e
colocando seus pés em água corrente. Os pés dela o encantaram, pois pareciam
joviais e um pouco grandes para o tamanho de seu corpo, o que ele considerava
absurdamente sensual. Nesse momento, ele tinha concluído que gostava da madre
tanto como professora, como mulher. Da cabeça aos pés!
--- Ainda bem que está aqui ainda.
--- diz a madre saindo do banheiro e vestindo uma camisola simples, sem muitos
adereços. --- Eu refleti e me achei bem vulgar. Não sei o que há comigo esses
dias. Deixar um demônio entrar na igreja e agora me dei como serva a um aluno
da faculdade. O que há comigo? --- diz ela ficando vermelha.
Ela tinha uma pele muito clara
por causa da batina que cobria o corpo inteiro dela e, por isso, ela não tinha
uma marca sequer do sol e, por isso, seu rosto vermelho, em contraste co sua
pele excessimanete branca, como seus cabelos, a fez ficar extremamente sexy aos
olhos de Pertos, que, enfim, não se segura.
--- Todos cometemos erros, mas
essa é a graça humana. Errar sempre, mas sempre seguir em frente! --- diz ele
se aproximando, a pegando pela cintura, a aproximando de seu corpo e sentindo os seios dela em seu corpo. Ele é um
rapaz bem alto, então, ela ficou ainda mais linda perto dele por estar mais
baixa. --- E, se ainda desejar, quero seguir em frente contigo. Errando
contigo, me desculpando, mas seguindo em frente juntos, de mãos dadas!
Pertos a encara com coragem nos
olhos e suas palavras a fazem ficar perdida em pensamentos. Ele a coloca no
colo e a deita na cama, segurando-a pelas pernas. Ele se dirige até seus pés
juntos, segurando-a pelos tornozelos gentilmente e diz enquanto olha para seus
olhos:
--- Eu sempre a considerei minha
guia máxima e minha musa máxima. Tê-la como minha serva é algo que não posso
perder. Não como serva, mas como companheira. É um milagre que eu não estava
esperando e espero que me aceite como eu sou.
Ela curva seus pés em direção ao
rosto dele e ele beija cada dedo dela. Nada
mais é dito. Tanto Pertos quanto a madre se comprometeram naquela noite.
Eles fizeram amor e a madre conheceu o fetiche de Pertos por pés, quando ele expos
isso ao se concentrar muito nas pernas dela. A madre-serva, então, foi amarrada
(hogtie), teve seus pés acariciados e foi tratada como uma mulher, de forma
digna e cordial, amada e erótica. Pertos, por sua vez, se esbaldou e deixou seu
fetiche fluir de maneira, também, a não assustar a madre. Para ambos foi um
sonho!
Dessa forma, a presença de um
demônio na Igreja não somente motivou a fé de um aluno, como também promoveu a
união de dois casais. Por isso, o Deus absoluto permitiu esse evento, pois,
nesse evento houve crescimento de aprendizado, de moral e de sementinhas.
FIM