Maou 2099
Estagiário da vez: Copilot
Muitos spoilers
Veltol e sua mais fiel seguidora Machina |
Sinopse traduzida do My Anime List
Quinhentos anos atrás, o mundo de fantasia de Alneath foi dilacerado por uma guerra entre imortais talentosos em magia e mortais armados com artefatos mágicos. O conflito chegou ao fim quando o herói dos mortais, Gram, matou o Lorde Demônio Veltol. Em 2099, o mundo parece um pouco diferente. Alneath e a Terra tecnologicamente avançada se fundiram em um evento conhecido como Fantasion. Os imortais foram caçados até quase a extinção, e os implantes tecnológicos chamados Familia permitem que os mortais usem magia.
À medida que o novo mundo se recupera lentamente, a serviçal de Veltol, Machina Solege, o ressuscita em Shinjuku, uma cidade tecno-mágica construída em meio a terras devastadas. No entanto, a magia de Veltol está severamente enfraquecida e seu ex-aliado Marcus o traiu. Para recuperar sua fama e habilidades mágicas, Veltol segue o conselho de Takahashi - amigo de Machina e hacker profissional - para iniciar uma carreira incomum: transmissão ao vivo. Sua língua afiada e habilidades de jogo comicamente pobres rapidamente lhe garantem seguidores, mas para dominar o mundo mais uma vez, Veltol deve primeiro descobrir os segredos de Shinjuku e frustrar os planos vis de Marcus.
Análise
Passei um bom tempo preparando o campo para poder falar dessa série e produzi alguns materiais para deixar fácil acompanhar o texto:
Começando pelo universo 2099 que foi um grande projeto ocidental e que está bem incorporado ao animê:
https://www.outrospapos.com/2024/11/maou-2099.html
Passando pela origem do termo Maou:
https://www.outrospapos.com/2024/12/a-origem-de-maou.html
Criando música para descrever a relação entre o rei Demônio e o Herói:
https://www.outrospapos.com/2024/12/maou-x-hero-e-curiosidade-sobre-oda.html
E explicando o termo Maou em relação a outros seres folclóricos e mitológicos do Japão:
https://www.outrospapos.com/2024/12/akuma-oni-e-maou.htm
Para agora entrar na série propriamente dita.
A série tinha tudo para desconstruir a figura heroica de Gram, herói da humanidade que o havia derrotado 500 anos atrás, e fazer algo que tenho detestado ultimamente, que é o uso da estrutura narrativa da inversão de valores (Veltol tornando-se bom e Gram tornando-se mau). Como a série bebeu bastante de influências ocidentais, o meu medo era bem concreto uma vez que nossos heróis todos passaram, ou continuam passando, por desconstruções diversas, como tratar, por exemplo, Batman como um f@scistE. Felizmente, nesse primeiro arco isso não ocorreu e ainda fiquei surpreso com a criatividade por trás do enredo principal.
Veltol ressurrecto em um mundo amálgamo, com a fusão de dois mundos, tornou-se fraco pois sua história não foi contada e passada adiante como deveria. Seu poder vem da adoração, medo e do coração das pessoas, então, sem ninguém o conhecer, seu poder enfraqueceu bastante. Aqui o vemos fraco, com apenas uma subordinada fiel, buscando os seus generais para descobrir que um deles quer seu lugar e ser humilhado por ele. Assim, Veltol precisa recomeçar sua vida. Tarefa nada fácil, pois suas “experiências profissionais” não são das mais adequadas para um mundo moderno. Engenheiro de masmorras não é um emprego que se ache em classificados, por exemplo, e nem estrategista tirânico. A solução foi a mais brilhante possível: sem ter como ganhar dinheiro de forma convencional, Veltol, com ajuda de uma hacker, tornou-se um streamer. Afinal, seu porte imponente, sua beleza física, seu jeito monárquico são atraentes para uma celebridade com canal próprio. Dessa forma, com a ajuda de um canal de streaming, Veltol começa a ganhar seguidores e, portanto, poder. Achei essa situação genial!
Assim, seguindo sua vida, agora com um milhão de seguidores, Veltol descobre que o herói Gram ainda está vivo. A deusa que lhe conferiu poder, por não gostar do que a velhice faz com as pessoas, garantiu a Gram a juventude eterna, que é uma espécie de imortalidade. E Gram está depressivo e apático. Ele teve tempo para viver e sobreviver a todos os tipos de traições e vivenciou o medo, sendo exposto ao ódio de pessoas que um dia ele protegeu. Vocês devem estar pensando, mas isso não é uma inversão de valores? Não é! É melhor do que isso, pois é a concretização dos valores que eles perseguem. Em uma conversa, pois Veltol, tendo respeito pelo homem que o derrotou, e o vendo na sarjeta, paga a ele uma janta e ambos conversam. Aí eles expuseram seus sentimentos: Veltol ainda quer dominar o mundo para que os fracos não causem problemas como os que Gram passou após matar Veltol e Gram ainda considera essa medida do Lorde demônio tirânica. Apesar de a democracia estar levando a humanidade para o caminho mais sujo, Gram ainda se agarra à ideia de liberdade mais do que à tirania de Veltol. Dessa forma, ficou concreto que não houve inversão de valores, mas a clara fixação dos valores que esses personagens defendem. Gram, mesmo sendo expulso e rejeitado pela humanidade ainda está disposto a protegê-la de tiranos que queiram causar uma guerra e Veltol ainda deseja conquistar o mundo para que os fracos não causem problemas, estabelecendo assim uma tirania verdadeira. Todavia ambos se respeitam!
Um segredo obscuro
O general que humilhou Veltol e quer tomar seu lugar como Maou, se chama Marcus, e usou seu poder para criar uma base de energia para a cidade de uma forma terrível: ele usa imortais como material de combustão, sendo que já usou um dos seguidores de Veltol. Agora que a fornalha enfraquece, ele busca outro imortal para alimentá-la. E ele escolhe o imortal da vez para servir de sacrifício: Machina, a linda subordinada fiel do Lorde Demônio. Ao capturá-la, Marcus (Marco) obriga Veltol a ir ao resgate. Sozinho e sem ter o seu poder completo, o Maou decide apelar para o único guerreiro que ele sabe que poderá ajudar e tem força para isso: Gram! Após outra cena magistral de enredo, onde Maou convence Gram a ajudá-lo, vemos que Gram se alegra por ainda ser útil para a cidade que ele hoje reside. Um verdadeiro herói. E teve uma cena engraçada: Veltol descobre como Gram conseguiu superar suas masmorras no passado e se revolta com o cheat que ele usa. Após uma breve discussão, eles chegam até a masmorra para o resgate.
Após um bom combate ideológico entre Gram e uma serviçal de Marco e do Marco com o Maou, chegamos a um momento incrível: Veltol declara seu amor correspondendo aos sentimentos de sua mais fiel seguidora (Machina). Fazendo assim que esse arco termine de maneira excelente. A série não termina aqui, mas apenas esse arco que analisei.
Conclusão
A animação da série não tem uma direção muito boa e muitas cenas que poderiam ter um impacto ainda maior não tiveram por conta de escolhas do diretor, e talvez do orçamento, da série. Poucos filtros e uso de músicas que não empolgam fazem a série perder um pouco o ritmo. Porém, o que conta aqui é esse genial enredo que mistura excelentes piadas (como a plaquinha de inscritos do Veltol na parede, enquanto ele sofre horrores para enfrentar um jogo tipo Dark Souls), bem como a linda homenagem à jornada do herói, indo além do final feliz, mas mostrando que o personagem ainda acredita e se mantém fiel aos seus valores. Bem como um Lorde Demônio tirânico vivendo sua vida até conseguir o poder de conquistar o mundo novamente. Passando por momentos clássicos do RPG Japonês à estrutura vapor/cyber punk de um futuro corrompido e dark. É uma das séries que mais gostei de assistir nessa temporada, mesmo não tendo os recursos e técnicas usadas por produções com mais dinheiro. Está sendo um prazer incrível ver um antigo Maou ser inserido em uma cultura pós-moderna, mas sem perder suas raízes tirânicas, fazendo isso de forma humorística e bem sacada! É uma série que eu recomendo muito!